Cabo-verdianos votam amanhã em disputa estão os 72 lugares na Assembleia Nacional

1254621Dea cordo com o JA o vice-presidente do MPLA, Roberto de Almeida, chefia uma delegação de observadores eleitorais da União Africana.

Os cinco partidos concorrentes ao pleito de 6 de Fevereiro fizeram, ontem, a última acção de campanha. Em disputa estão os 72 lugares na Assembleia Nacional. Apesar de existirem cinco partidos concorrentes, apenas o Partido Africano para a Independência de Cabo Verde (PAICV), actualmente no poder, e o Movimento para a Democracia (MpD), maior partido na oposição e que governou o arquipélago entre 1990 e 2000, são os favoritos, fruto da bipolarização existente em Cabo Verde.

Os outros concorrentes são o Partido do Trabalho e Solidariedade (PTS), a União Cabo-verdiana Independente e Democrática (UCID) e o Partido Social Democrático (PSD), que apenas concorre nos três principais círculos eleitorais: Santiago Sul, Santiago Norte e São Vicente.
As eleições deste domingo são aguardadas com grande expectativa, uma vez que, em termos de governação, marcam o desempate, entre o PAICV, de José Maria Neves, e o MpD, de Carlos Veiga, desde que o país se abriu ao multipartidarismo, em 1990. Tanto um partido como o outro já governou o país durante dois mandatos consecutivos. Carlos Veiga foi Primeiro-Ministro entre 1990 e 2000 e José Maria Neves de 2001 até ao momento. Enquanto Veiga pretende regressar ao Governo, Neves quer consolidar a liderança.

No último dia de campanha, o MpD escolheu a Praia Gamboa, na Cidade da Praia, como local de comício. O PAICV elegeu o largo adjacente ao estádio de futebol, na zona da Várzea. O comício do MpD começou às 18 horas locais (20 horas em Angola), enquanto o do PAICV arrancou uma hora mais tarde. Os líderes dos dois partidos foram os principais oradores. Carlos Veiga e José Neves apelaram aos eleitores para acorrerem em massa às assembleias de voto, neste domingo, e votarem no partido do seu coração.

No princípio da tarde de ontem, o Primeiro-Ministro cessante teve, na Biblioteca Nacional, um encontro com pessoas portadoras de ­deficiência. José Maria Neves considerou o encontro "o momento mais emocionante" por si vivido durante a campanha eleitoral.

Na ocasião, o presidente do PAICV lembrou que, quando assumiu o cargo de Primeiro-Ministro, em 2001, criou a Comissão Nacional dos Direitos Humanos, com vista a promover e defender os direitos de todos os cabo-verdianos, sem qualquer distinção. Informou que a Universidade de Cabo Verde criou recentemente um mestrado para a formação de especialistas em educação para portadores de deficiência.

José Maria Neves defende que a comunicação social crie programas que permitam às pessoas portadoras de deficiência auditivas acompanhar o que se passa em Cabo Verde e no mundo "A sociedade só é livre quando há igualdade de oportunidades", sublinhou o Primeiro-Ministro cessante, antes de finalizar: "esperamos que convosco consigamos mais vitórias para Cabo Verde no futuro".

"Mesti Muda"
O MpD, maior partido da oposição, apresenta-se com o slogan "Mesti Muda", expressão crioula que em português significa "Precisa Mudar", por entender que o PAICV falhou na condução do país em todos os sectores.

O partido de Carlos Veiga entra na corrida eleitoral em todos os círculos, dez no país e três no estrangeiro e promete um novo rumo para o desenvolvimento do país. Veiga considera que o seu partido está preparado para governar e resolver os problemas das populações.

Na educação, o MpD promete fazer reformas visando alargar o ensino obrigatório e gratuito de seis para 12 anos. Quer que os alunos aprendam pelo menos quatro línguas, ciências e matemática. Dessa forma, sublinha Carlos Veiga, os jovens são melhor preparados para ingressar na vida profissional ou no ensino superior.

Na área da saúde, segundo Carlos Veiga, o MpD promove a universalidade de acesso aos cuidados, para servir todos os cidadãos. E promete promover o sistema misto público/privado.
O MpD propõe igualmente a instalação de um parque científico e tecnológico na Cidade da Praia. Tal como os outros partidos concorrentes às eleições legislativas de 6 de Fevereiro, o Movimento para a Democracia defende a regionalização do país, a fim de dar mais autonomia administrativa e financeira às ilhas do arquipélago, das quais nove são habitadas.

Um novo futuro
O PAICV concorre também em todos os círculos eleitorais, sob o lema "Mais Cabo Verde, um novo futuro". Segundo o líder do partido no poder e Primeiro-Ministro, José Maria Neves, o seu Governo já iniciou acções e desenvolveu projectos nos mais variados sectores, o que lhe dá confiança no desenvolvimento futuro do arquipélago. José Maria Neves diz que Cabo Verde hoje é um país respeitado no mundo, tendo em conta a política correcta e à boa governação desenvolvida pelo Executivo do PAICV nos últimos dez anos.

Apesar dos ganhos que o país já alcançou, José Maria Neves reconhece que o Governo por ele liderado ainda não resolveu todos os problemas, nomeadamente do emprego, mas garante que está empenhado na continuidade do trabalho que visa dar respostas aos anseios das populações.

José Maria Neves pede ao povo mais um voto de confiança para "juntos continuarmos a caminhada de desenvolvimento do arquipélago".

No sector da Educação, José Maria Neves fala no programa de continuidade da valorização dos recursos humanos, reforço da formação profissional, criação de universidades on line para permitir o acesso à formação superior nas ilhas onde residem, sem esquecer a política de bolsas de estudo, que segundo o líder do PAICV, o actual Governo já criou um sistema dirigido a esse fim.

Quanto ao sector da saúde, apesar de ganhos assinaláveis nos últimos anos, com a construção de novas infra-estruturas nos vários pontos do país, José Maria Neves diz que o seu partido, se vencer as eleições no dia 6 de Fevereiro, promove a introdução de novas especialidades para uma maior cobertura a nível nacional; e tenciona melhorar o sistema de evacuação entre as ilhas. Para isso, fala na aquisição de dois helicópteros. O alargamento do sistema de segurança social, é outra meta da governação do PAICV para os próximos anos, garante José Maria Neves. Membro da Comunidade dos Países de ­Língua Portuguesa (CPLP), Cabo Verde tem-se destacado pela boa governação, exercício da democracia, políticas públicas de combate à pobreza e desenvolvimento sustentável, de acordo com critérios de organismos internacionais como as Nações Unidas, União Africana, União Europeia e Fundo Monetário Internacional.
Segundo relatórios das Nações Unidas, Cabo Verde deve cumprir todas as Metas dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM) antes do prazo previsto, em 2015.

Disputa renhida
Entre os eleitores, ninguém se arrisca a apontar um virtual vencedor, pois o cenário coloca os dois partidos como favoritos. "É muito difícil dizer quem vai vencer, pois, apesar do PAICV estar a governar, o MpD apresenta-se como uma alternativa", sublinhou José Araújo, funcionário de uma unidade hoteleira na Cidade da Praia. Destacou o facto do MpD ter obtido bons resultados nas últimas eleições autárquicas, tendo o seu candidato na Cidade da Praia, a capital, suplantado o concorrente do actual partido no poder.

Quem também espera uma disputa renhida nas eleições de domingo é o taxista António Nelcar: "vai ser uma eleição muito disputada, mas acho que vai ganhar o MpD porque quero mudança", sublinhou o jovem, não se importando em revelar o seu sentido de voto.
A jovem Ana Betina é cambista no Mercado Municipal da Praia e também deixou claro o seu sentido de voto. Por opção, nunca votou em eleições anteriores, mas prometeu exercer o seu dever cívico no domingo, pois, sublinhou, "noto que estas eleições devem ser mais renhidas e o meu voto pode ser decisivo para o PAICV, o meu partido do coração".

Denuncia de irregularidades
O PAICV, partido que actualmente governa Cabo Verde, denunciou ontem a existência de irregularidades em Santiago Sul e Norte, onde pessoas do MpD incitaram simpatizantes do PAICV a votarem "por antecipação" em urnas falsas, para que no dia da votação não compareçam nas assembleias de voto.  A denúncia foi feita por Janira Hopffer Almada, membro da Comissão Política do PAICV, durante uma conferência de imprensa que decorreu na sede nacional do partido.

"Viemos aqui para transmitir-vos algumas informações de extrema gravidade. Tivemos conhecimento de um acto extremamente grave que está a ocorrer em alguns círculos eleitorais, principalmente Santiago Sul e Santiago Norte. Existem pessoas que estão no terreno com urnas falsas a aliciarem e incitarem pessoas afectas ao PAICV para não votarem no partido", disse Janira Almada, numa clara alusão aos adversários do MpD.
"Isso é extremamente grave! Quer dizer que há pessoas que estão a praticar um acto criminoso e que pode ter um efeito negativo nas eleições de 6 de Fevereiro", acrescentou a também ministra da Presidência da República e da Juventude.

Janira Almada apelou a todos os cabo-verdianos para que "não se deixem enganar por essas pessoas criminosas que andam com urnas falsas para recolherem o voto, alegadamente antecipado, para que essas mesmas pessoas não votem no dia 6. Apelamos também às autoridades que tomem as medidas convenientes, para que essas pessoas sejam responsabilizadas e possamos pôr termo a esse tipo de conduta e postura altamente criminosas".

A violência e a agressão, disse, foram as principais tónicas do MpD durante a campanha. Mas pediu aos eleitores para compararem e decidirem se, efectivamente, deve ser o MpD que deve governar Cabo Verde. "Basta comparar que 50 por cento do tempo de antena do MpD é dedicado ao PAICV, ou para agredir ou para manipular imagens do Dr. José Maria Neves ou para fazer declarações bombásticas ou caluniosas contra candidatos do PAICV", queixou-se.
Janira Almada concluiu que a campanha correu bem para o PAICV: "Foi uma onda amarela (a cor do partido) onde se registou uma crescente e contínua adesão, sobretudo de jovens e mulheres. Acreditamos que temos todas as condições para vencer e reforçar a maioria absoluta, aliás como a sondagem feita pela MGF já concluiu. Vamos em massa votar porque nós são que decidimos o país", disse.