Obama pede em Mianmar união para a democracia

Obama pede em Mianmar união para a democracia

Barack Obama, o primeiro presidente dos Estados Unidos em exercício a visitar Mianmar, fez nesta segunda-feira um apelo para o estabelecimento de uma democracia, depois de uma visita de várias horas diante de uma multidão em Yangun.

O chefe de Estado atravessou rapidamente a antiga capital com as ruas lotadas, decoradas com bandeiras americanas, que representavam até recentemente o inimigo.

Milhares de curiosos acompanharam seu percurso, alguns imortalizando o momento tirando fotos, outros carregando cartazes que diziam "Bem-vindo Obama" ou "Lenda, herói do nosso mundo".

"Os Estados Unidos estão com vocês", declarou o presidente em um longo discurso na Universidade de Yangun, o centro da luta pela democracia.

"Esta notável jornada apenas começou e será muito longa", acrescentou. "As chamas frágeis do progresso (...) não devem ser extintas, devem se tornar a estrela guia do povo e da nação".

Washington premia assim os esforços do regime de Naypyidaw, desde a dissolução da junta militar há um ano e meio, particularmente pela eleição da líder da oposição Aung San Suu Kyi ao Parlamento, a libertação de centenas de prisioneiros políticos e as negociações com os grupos rebeldes de minorias étnicas.

Obama, que já está no Camboja para uma reunião de cúpula, se reuniu com o presidente Thein Sein, creditado por este profundo movimento de reforma. Ele também foi recebido na casa de Suu Kyi, dois meses após o primeiro encontro entre os dois Prêmios Nobel da Paz (1991 e 2009), em Washington.

Foi a oportunidade para a opositora demonstrar a prudência que a caracteriza, enquanto a cidade estava em êxtase por este momento único.

"O momento mais difícil em uma transição é quando o sucesso está à vista. Então temos de ter muito cuidado para não sermos enganados pela miragem do sucesso", declarou Suu Kyi, que seus admiradores chamam de "A Dama".

Os Estados Unidos impuseram sanções econômicas contra a junta no final dos anos 1990. Mas quase todas foram suspensas nos últimos meses.

"Thein Sein já pode tirar desta viagem uma vantagem muito significativa no plano interno", considerou Mael Raynaud, analista político.

"Obama fez dele um presidente intocável, cada vez menos suscetível de ser derrubado pela linha-dura".

Mas o americano também vai tirar suas próprias conclusões, após uma primeira, em 2009, quando considerou adequado adicionar às sanções o diálogo com os militares.

"A administração Obama quer levar o crédito por algumas das mudanças", observou Roman Caillaud, diretor do escritório birmanês da consultoria Vriens and Partners.

O chefe do Governo americano descobriu uma movimentada ex-capital, enfraquecida por 50 anos de gestão militar e ansiosa para receber os investidores estrangeiros. Mas seu discurso foi essencialmente político.

Na região oeste, a violência étnica causou 180 mortes entre budistas da etnia rakhine e muçulmanos da minoria apátrida rohingya, que ainda vivem no ostracismo por causa do racismo.

"Por muito tempo, as pessoas deste país, incluindo os da etnia rakhine, enfrentaram a pobreza esmagadora e a perseguição. Mas não há desculpa para a violência contra inocentes", disse Barack Obama.

"Os rohingyas carregam com eles a mesma dignidade que você e eu. A reconciliação nacional vai levar tempo, mas para a nossa humanidade comum e o futuro deste país, é hora de parar com as incitações e violência".

No fim-de-semana, Thein Sein reconheceu que o país precisa resolver este problema, correndo o risco de "perder o rosto no cenário mundial". Ele também prometeu resolver a questão sensível da cidadania dos rohingya.

Quanto ao caso dos presos políticos, o líder do governo birmanês prometeu pôr em prática, até o final do ano, um mecanismo para examinar todos os casos. Ativistas da oposição anunciaram nesta manhã que 44 deles foram libertados.