Papa encerra ano em defesa dos pobres

Papa encerra ano em defesa dos pobres

O Papa presidiu hoje à oração de vésperas, com o canto do hino 'Te Deum', em agradecimento a Deus pelo ano que passou, convidando a um “exame de consciência” e à defesa dos pobres.

“É preciso defender os pobres, não defender-se dos pobres; é preciso servir os fracos, não servir-se dos fracos”, disse, durante a homilia pronunciada esta tarde na Basílica de São Pedro.

Francisco aludiu aos recentes casos de corrupção no Município de Roma e pediu uma reflexão sobre a “qualidade” da presença dos católicos na cidade e no “serviço ao bem comum” que fazem na política e nas instituições sociais.

O Papa apelou a uma “séria conversão dos corações” para permitir um “renascimento espiritual e moral” e a construção de uma sociedade em que os pobres e marginalizados estejam “no centro” das preocupações.

A intervenção apresentou os pobres como um “tesouro”, criticando as políticas que os “perseguem”, “criminalizam” e obrigam a “ser mafiosos” [‘mafiarsi’, no original italiano], mergulhando as pessoas na “escravidão” do seu egoísmo.

“Quando numa cidade os pobres e os fracos são tratados, socorridos e ajudados a promover-se, eles revelam-se o tesouro da Igreja e um tesouro na sociedade”, sublinhou o Papa.

Francisco citou Roberto Benigni, ator e realizador italiano que apresentou um duplo serão televisivo sobre os 10 Mandamentos, para referir que os israelitas tinham sido libertados “materialmente” do Egito, mas perante as dificuldades sentiram “saudades” da escravidão.

“No nosso coração aninha-se a saudade da escravidão, porque é aparentemente mais segura”, precisou.

O Papa apresentou uma reflexão sobre o “tempo”, sobre Deus que se revelou na História, face ao “fascínio do momento” que leva muitas pessoas a preferir o “fogo-de-artifício” à “libertação de Deus”.

“Paradoxalmente, preferimos, mais ou menos inconscientemente, a escravidão. A liberdade assusta-nos porque nos coloca diante do tempo e diante da responsabilidade de o viver bem”, afirmou.

Esta cerimónia no final do ano está tradicionalmente ligada à Cidade de Roma, em que participam o vigário para a Diocese de Roma, cardeal Agostino Vallini, com todos os bispos auxiliares.

“Nesta cidade, nesta comunidade eclesial, somos livres ou somos escravos?”, questionou.

Em conclusão, o Papa recorda que o final do ano recorda que existe uma “última hora” e a “plenitude do tempo”, rezando pela “graça de poder caminhar em liberdade para poder reparar os muitos danos feitos e poder defender-se da nostalgia da escravidão”.