Dom Zacarias lança obra literária “Acreditei por isso falei”

Dom Zacarias lança obra literária “Acreditei por isso falei”

Foi hoje lançado no auditório da Irmãs Paulinas a obra literária do ex prêmio Sakarov, Dom Zacarias Kamuenhu, Arcebispo emérito do Lubango. 

Vários Bispos da CEAST estiveram presentes neste evento, membros do governo de realçar a presença da presidente da Assembleia Nacional, Carolina Cerqueira, representantes de Partidos Políticos, sociedade civil e público em geral vivenciaram momentos de autentica sabedoria de um Bispo emérito. 
Apresentou a obra Dom José Manuel Imbamba, presidente da CEAST.
Em 2001, ao receber o Prémio Sakharov, Dom Zacarias Kamwenho afirmou: “O Prémio veio para Angola e por Angola”. Após 20 anos o nosso “mais velho”, preste a celebrar 90 anos, resolve quebrar o silêncio e publicar alguns
pronunciamentos públicos, ignorados na época pela imprensa pública.
Com o muito sugestivo título “Acreditei, por isso falei”, retirado duma passagem bíblica (2Cor 4,13), esta obra que tem por sub-título o rememorativo “REVISITANDO
O PRÉMIO SAKHAROV – 2001”, apresenta-se dividida em 3 partes.
1-Uma INTRODUÇÃO, em que Dom Kamwenho sintetiza o conteúdo dos documentos coligidos que irá qualificar como Testemunhos esta síntese, onde aflora as ideias mestras da sua doutrina, muito versada para os tempos actuais e inspirada
na Doutrina Social da Igreja.
2-Seguem-se os Anexos que consistem em vários momentos de reflexão, intervenções e documentos oportunos enviados ou dirigidos a autoridades políticas do país, tais como o Presidente da República, para alertá-las sobre aspectos flagrantes da vida nacional e sua repercussão na vida dos cidadãos angolanos e não
só. Pela sua importância, vale a pena elencá-los aqui, na sua totalidade:
a) Testemunho 1: REVISITAÇÃO AO PRÉMIO SAKHAROV – 2001 (2001-2021): Aberto com a extraordinária passagem bíblica: “Ele (Deus) julgará as Nações, e dará
as suas leis a muitos povos, os quais das suas espadas forjarão relhas de arados, e

das suas lanças, foices. Uma nação não levantará a espada contra outra nação, e não mais se prepararão para a guerra” (Isaías 2,4), que o prelado considera inspirador da obra “Sagrada Esperança” de Agostinho Neto. Neste momento reflexivo, depois de serem analisados os motivos que levaram à atribuição, a si, de tão valioso galardão, saudado urbi et orbi, até pelos próprios protagonistas da contenda em curso no momento, em Angola (José Eduardo dos Santos e Jonas Savimbi), o prelado acaba por sublinhar a decepção que nos assola hoje, neste
sombrio momento do fim do que alguns chamaram de “primavera lourencista”.
b) Testemunho 2: CONTRIBUTO DAS IGREJAS CRISTÃS NO PROCESSO DA
INDEPENDÊNCIA DE ANGOLA: aqui uma muito interessante reflexão, em torno da memória do Papa Paulo VI e sua encíclica Populorum Progressio, sobre as relações entre a Igreja e as formas de poder instituídas no que é hoje o território do moderno Estado angolano. Uma relação que começa deste os primórdios da presença
portuguesa nesta parte de África.
c) Testemunho 3: A IGREJA E A INDEPENDÊNCIA DE ANGOLA - O meu testemunho –Bela mensagem, dirigida especialmente à juventude, por altura da celebração do 45o aniversário da independência de Angola. Aqui Dom Kamwenho relembra os episódios mais salientes da contribuição da Igreja, para a independência de Angola, com o mensageiro a recordar as suas próprias emoções e esperanças em momentos cruciais, como o da chegada dos chamados Movimentos de Libertação Nacional (FNLA, MPLA e UNITA). Não esquecida, aqui, a rememoração do galardão Sakharov, que considera prémio da Igreja, de que era Presidente da CEAST (Conferência Episcopal de Angola e São Tomé) e do COIEPA (Comité Intereclesial para a Paz em Angola), corolário de um esforço titânico e polémico pelo fim um longo conflito armado e pelo aconselhamento aos políticos para que estabelecessem as premissas fundamentais para cimentar uma Paz
definitiva, para lá do calar das armas.
d) Testemunho 4: A PAZ: TAREFA DE TODOS OS HUMANOS: reflexão sobre a premência e a relevância da Paz e dos seus pressupostos (“a Verdade – a Justiça – a Liberdade e o Amor”) como missão irrenunciável da Igreja, em alusão à encíclica Pacem in Terris e a vida do Papa João XXIII. Aplicação do tema ao percurso angolano da procura da Paz e suas dificuldades pela habitual e lamentável recusa da reunião de tais pressupostos pelos políticos, especialmente quando detêm o
poder. A actualização do tema pelo Papa Francisco, nas encíclicas “Laudato Si e
Fratelli Tutti” (Amor à natureza e Amizade Social).
e) Testemunho 5: O ESTADO DA NAÇÃO ANGOLANA. QUE FUTURO?: aqui a
aludida intervenção “luminosa” e iluminante do prelado, no Congresso da Nação.
f) Testemunho 6: SERVIR E AJUDAR OS OUTROS A SERVIR Eleições 2022, “na hora da crise pós – eleitoral”: balanço lúgubre do que sobrou das eleições, as de 24
de Agosto de 2024, que, prévia e abertamente armadilhadas, ainda assim –

esperança nunca deve morrer – alimentaram, na esmagadora maioria das
populações angolanas, o sonho da mudança, ante uma alternativa tão
surpreendentemente positiva como foi a da emergência da FPU (Frente Patriótica
Unida).
A colectânea termina com um apêndice composto pela intervenção de Dom Zacarias Kamwenho e de um extracto traduzido do discurso da Excelentíssima Senhora Nicole Fontaine, então Presidente do Parlamento Europeu, aquando da outorga do Sakharov, ao prelado.

DOM ZACARIAS KAMWENHO
Nasceu em Chimbumdo, Bailundo, Província do Huambo, a 5 de Setembro de 1934. Foi ordenado presbítero a 9 de Julho de 1961 e, desde logo, nomeado para a Missão da Bela Vista, Vavayela, no Huambo, pastoral directa exercida durante oito anos.
Em 1968, foi chamado pelo seu Bispo, Dom Daniel Gomes Junqueira, para enquadrar a Direcção do Seminário Maior de Cristo-Rei (Huambo), vindo a ser nomeado vice-reitor da instituição em 1970, posteriormente nomeado Reitor, acumulando a função de Vigário-geral da Diocese até 26 de Agosto de 1974, data em que se tornou pública a sua nomeação para Bispo Auxiliar de Luanda. Nesta mesma Instituição leccionou as disciplinas de Filosofia e de Liturgia.
A ordenação Episcopal deu-se a 23 de Novembro, Solenidade de Cristo Rei do
Universo.
Tomou posse como Bispo Auxiliar de Luanda a 1 de Dezembro de 1974. Assistiu a entrada dos Movimentos de Libertação na Capital (1975), assim como o êxodo dos Missionários e da população branca em geral apavorados pelo “Poder Popular”...os confrontos entre os três Movimentos etc.. Em 1975 (31 de Agosto) tomou posse da nova Diocese de Novo Redondo (Sumbe). Em 1995, foi transferido para a Arquidiocese do Lubango com o título de Arcebispo
Coadjutor.