"O Coelho Conselheiro, Matreiro e Outros Contos Que Eu Te Conto" é a nova obra da escritora angolana Isabel Ferreira à disposição do público, em Portugal, a partir de 13 deste mês e depois em Luanda.
Com 100 páginas e impresso pelas edições Kujiza Kuami, o livro, com carácter educativo, exalta o amor e a tradição dos ancestrais angolanos, valorizando o papel dos avós na formação dos adolescentes.
Em entrevista à Angop, Isabel Ferreira atribuiu à obra uma tentativa de combinar arte e educação, com o adolescente a participar "colorindo e respondendo" às questões que coloca, tal como no processo ensino-aprendizagem, para a consolidação do conhecimento, numa perspectiva diferente dos contos infanto-juvenis.
Disse sentir-se reconfortada por contribuir com a escrita para a recuperação dos valores da sociedade angolana, o que é dever de todo ser humano para deixar o mundo um pouco melhor do que o encontrou. "O escritor é o farol da sociedade, quer se aceite, quer não".
"Vivemos numa sociedade, onde, por vezes, algumas pessoas não respeitam os mais velhos e nem respeitam as crianças (...). Há no O Coelho Conselheiro Matreiro e Outros Contos Que Eu Te Conto uma reflexão sociológica do nosso modo de estar na vida (...). Enfim, são fábulas que transmitem o amor, a concórdia e a paz entre os seres humanos" - sustentou.
Questionada sobre as razões da escolha de Portugal para o lançamento da obra, Isabel Ferreira escudou-se na necessidade de atingir várias sensibilidades de leitores, incluso a angolana.
"O escritor e a sua obra devem circular mundo afora, quando o assunto é mostrar o que ele escreve. Não estamos num mundo globalizado? (...) Eu vou ao encontro da comunidade angolana, apesar que ela não é a única que consome o meu produto. (...) Sabe que a escrita é uma actividade bastante solitária e, na sua publicação, o livro deve atingir várias sensibilidades, para que possa ser conhecido, lido e talvez com essa circulação o escritor alcance notoriedade" - argumentou.
Isabel Ferreira ligou igualmente o lançamento da obra em Lisboa ao conhecimento adquirido ao longo dos tempos naquela terra, pois foi lá onde estudou teatro, trabalhou com produtoras de programas para Televisão, fez parte de algumas novelas portuguesas, tendo, por isto, amigos e pessoas que acreditam no seu potencial.
Lembrou que desde 2000 edita os livros fora do país, apesar de ter um "carinho muito especial pelos leitores angolanos", que a viram nascer e crescer como escritora, pelo que se sente irreversivelmente ligada a Angola, pois todo o seu percurso e crescimento vêm do país.
"Tudo o que faço, faço-o pensando em como os meus irmãos angolanos irão receber" - salientou Isabel Ferreira, adiantando, contudo, que a necessidade de crescer e de a sua "pena" ser respeitada no mundo literário internacional, a faz sair da "estante do locus (lugar) angolano", frisou.
Sobre o tempo que levou para produzir O Coelho Conselheiro, Matreiro e Outros Contos Que Eu Te Conto, respondeu, citando Fernando Pessoa: "O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem".
"Para mim, foi tão intenso escrever este livro, tal como escrever prefácio ou fazer uma página tese. Entrego-me com paixão, e o tempo não é o limite, quando o assunto é escrever" – atestou.
Acerca das dificuldades encontradas para produzir o livro, destacou a falta de rendimentos, patrocínios e as promessas não cumpridas.
Condicionou o lançamento da obra em Angola à criação de condições ideais, entre as quais financeiras.
O Coelho Conselheiro, Matreiro e Outros Contos Que Eu Te Conto está registado na Sociedade Portuguesa de Autores, no Ministério da Cultura e tem o registo da ISBN.
De acordo com Angop, vinte exemplares da obra foram cedidos à Biblioteca Nacional Portuguesa, segundo obrigam as leis de Portugal. A autora deverá ceder ainda o seu livro às universidades para que possam estar disponíveis aos estudantes.
Isabel Ferreira achou interessante essa modalidade, já que permite o autor e o seu livro serem conhecidos, além do leitor comum, pelas academias e comunidade especializada.
Isabel Vicente Ferreira, membro da União dos Escritores Angolanos, nasceu em Luanda e já publicou as obras poéticas Laços de Amor (1995), Caminhos Ledos (1996), Nirvana (2004), À Margem das Palavras Nuas (2007), assim como os romances Fernando D'Aqui e o Guardador de Memórias, estes dois últimos são objecto de estudo literário na Universidade de York, em Toronto (Canadá), no Brasil e no Chile.
Isabel Ferreira começou a vida artística no agrupamento musical FAPLA-POVO, pertenceu ao Grupo Amador de Dança e ao Grupo Experimental de Teatro do então Conselho Nacional da Cultura de Angola. Na Televisão Pública de Angola colaborou nos programas O Carrossel e Tempo Jovem.