Esta avaliação foi feita à Imprensa pelo rei José Hebo Tengo "Kamba Ngongo", proveniente da Baixa de Kassanje (província de Malanje), com o propósito de assistir as exéquias do nacionalista, que disse ter
conhecido em 1961, fruto da sua participação activa na luta contra o colonialismo português.
"A presença de várias centenas de pessoas no funeral, com destaque para os membros dos órgãos de soberania e do Executivo, deputados, governadores provinciais, representantes de partidos políticos e da viúva do primeiro Presidente de Angola, Maria Eugénia Neto, comprova o quanto Mendes de Carvalho foi uma figura carismática devido os feitos por si protagonizados durante a sua vida", comentou.
O soberano lembrou que Mendes de Carvalho teve uma participação preponderante na mobilização de outros patriotas para a revolta dos camponeses na região da Baixa de Kassanje, em 4 de Janeiro de 1961, e da acção de 4 de Fevereiro do mesmo ano, que resultou no início da Luta Armada de Libertação Nacional.
O também nacionalista angolano, Vicente Pinto de Andrade, que disse ter convivido com o malogrado no Tarrafal (Ilha de Santiago de Cabo Verde), na condição de presos políticos, considerou-o um patriota e um verdadeiro traço de união de todos angolanos, enquanto esteve vivo.
Por sua vez, o presidente da Câmara de Tarrafal, José Pedro Nunes Soares, presente na homenagem a Mendes de Carvalho, disse que este deixa um legado que deve ser seguido pelos povos de Cabo Verde e de Angola.
"Tarrafal foi um campo de concentração onde o malogrado passou muito tempo e permitiu que os povos da referida ilha nutrissem e cultivassem vários ensinamentos de Mendes de Carvalho, propiciando a aproximação das diferentes culturas", sublinhou.
O elogio fúnebre do Bureau Político do MPLA e todas as mensagens dos partidos como a FNLA, CASA-CE, PRS, UNITA, Bloco Democrático, assim como da associação do Processo dos 50, da União dos Escritores
Angolanos e das congregações religiosas, sublinharam o carácter humanista de Mendes de Carvalho e a sua preocupação constante com o bem-estar dos mais desfavorecidos.
Uanhenga Xitu, pseudónimo literário de Mendes de Carvalho, nasceu em 29 de Agosto de 1924, em Calomboloca, município de Icolo e Bengo, província de Luanda, e exerceu clandestinamente actividades políticas, visando a independência de Angola, tendo sido preso pela polícia colonial "PIDE" durante a luta.
Foi julgado pelo Tribunal Militar e condenado a 12 anos de prisão maior, medidas de segurança de seis meses a três anos prorrogáveis e perda de direitos políticos por 15 anos. Na prisão começou a escrever
as suas histórias.
Depois da independência de Angola, exerceu as funções de ministro da Saúde, Comissário Provincial de Luanda e embaixador da República Popular de Angola na Alemanha. Foi deputado à Assembleia Nacional, pela bancada do MPLA, e membro do seu Comité Central até 1998.
Em 2006 recebeu a distinção do Prémio de Cultura e Artes, na categoria de literatura, pela qualidade do conjunto da sua obra literária, causando-lhe uma enorme surpresa.
Fonte: Angop