Uma nova obra literária, de Artur Pestana "Pepetela", denominada "Crónicas com Fundo de Guerra" foi, na noite de hoje, quinta-feira, lançada à público, em Luanda, durante uma cerimónia de apresentação, venda e assinatura de autógrafos decorrida na Associação cultural Chá de Caxinde.
A obra, constituída por noventa crónicas publicadas de 1992 a 1995 pelo Jornal "O Publico", de Portugal, retrata, em 211 páginas, o dia-a-dia angolano, particularmente o luandense, numa época em que, além da guerra, o país também tinha muita coisa que poderia interessar o público português, então destinatário das crónicas e contos.
Editado pela Associação Cultural Chá de Caxinde, o livro, com uma tiragem de mil Exemplares, abre com uma crónica intitulada "O bacalhau do Natal" em que o autor considera que "entre aquilo que Portugal deixou neste país africano podemos destacar o habito de se comer bacalhau na noite de natal, sem precisar se pensar que isso seja habito de reduzida elite urbana".
A população urbana, refere o escritor Pepetela, é metade de Angola e vai servindo de matriz de cada vez mais avassaladora da cultura angolana, daí que, o costume é encontrar-se absolutamente espalhado, pelo menos por todas as cidades.
Esta realidade, segundo Artur Pestana na sua primeira crónica escrita em 1992 para "O Publico", levou que, dois anos depois da independência de Angola, quando tudo faltava nas lojas, o governo decidiu fazer uma importação especial para o natal, onde constava o azeite de oliveira, o vinho e, claro, o infalível bacalhau.
O livro que termina com "Herbívoros e carnívoros", discorre nas suas 90 crónicas sobre aquilo que considera o dia-a-dia, com os temas "Choveu em Luanda", "Kianda dos nossos sonhos", "O canto do matrindinde", Os bandos", "O homem cobra", entre outras, a fazerem jus ao retrato do quotidiano.
Ao apresentar a obra, João Armando, membro da Associação Chá de Caxinde (editora da obra), considerou o escritor Pepetela como "um vulto da literatura da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP)", devido ao elevado contributo dos seus escritos.
Disse ainda que, actualmente, os trabalhos publicados por Pepetela estão traduzidos em dezanove línguas estrangeiras, entre as quais, o inglês, francês, espanhol, dinamarquês, russo, finlandês, holandês, entre outras.
Pepetela que, na ocasião, agradeceu à fidelidade dos seus leitores, disse a intenção de escrever essas crónicas foi no sentido de mostrar que além do sofrimento resultante da retomada da guerra civil havia também coisas boas que poderiam despertar a atenção dos portugueses.
Artur Pestana "Pepetela", nasceu em Benguela, em 1941, onde fez o ensino secundário. Partiu em 1958 para Portugal, onde deveria frequentar a universidade, porém por razões políticas, em 1962 saiu de Portugal para Paris, e seis meses mais tarde para Argélia, onde se licenciou em Sociologia.
De 1976/82 foi vice-ministro da educação e docente de Sociologia na então Universidade de Luanda, actual "Agostinho Neto".
Conta na sua galeria, 21 títulos já publicados, com realce "O quase fim do mundo", "Jaime Bunda, o agente secreto", "Jaime Bunda e a morte do americano", "O desejo de Kianda", "Maiyombe", "O império das Lundas, entre outras publicações.
Foi galardoado com diversas distinções, com destaque para o "Prémio Nacional de Literatura (1980, 85), Prémio especial dos críticos de São Paulo (Brasil, 1993) e os prémios Camões (de Portugal), "Prinz Claus (Holanda/1999), Nacional de Cultura/2002 e internacional 2007 da Associação dos Escritores Galegos.
O livro "Crónicas com Fundo de Guerra" passa a ser vendido ao preço de 2000 Kwanzas.
A par do lançamento do livro de Pepetela, foi anunciado que a escritora angolana Isabel Maria da Costa Lafaiete venceu o "Segundo Concurso de Conto Infantil", patrocinado pela Fundação ESCOM no valor de cinco mil dólares norte-americanos.
Alem do valor do prémio, a Fundação garante igualmente outros cinco mil dólares para despesas administrativas da entidade promotora.
Maria da Costa Lafaiete, de 49 anos de idade, foi declarada vencedora através da sua obra "Mutamba" que, ainda assim, deverá beneficiar de alguns arranjos antes da sua publicação, no decorrer deste ano.