O fenómeno “Combate à Corrupção em Angola” ganhou página de jornais em todo o mundo. A era da esperança para a solução de problemas herdados de há mais de 40 anos estava inaugurada com o programa do governo saído das eleições de 2017.
Muita gente rejubilou com a chegada do novo presidente, mas logo viu que uma andorinha sozinha não fazia a primavera. Mecanismos com tentáculos longos enraizados no passado persistem e continuam activos, capazes de dificultar qualquer avanço com tons de mudança.
Apesar dos encorajamentos recebidos quer do chefe do governo quer da Procuradoria Geral da República, os angolanos mostram-se ainda reticentes quanto a sua segurança.
A falta de credibilidade nas instituições de denuncia é o elemento central no cenário de desconfiança. Mais de metade dos angolanos (55%) está consciente de que ao denunciar casos e pessoas envolvidas em actos de corrupção expõem-se a riscos sérios. O maior deles é o risco de perder a própria vida.
O documento que traz esses dados de estudo, mostra ainda que a «percepção do risco de retaliação é comparativamente maior nos angolanos mais escolarizados (72%)».
Divulgado em julho de 2020, pela Ovilongwa, o documento revela também que entre os residentes na província de Luanda o medo de retaliação atinge os 66%, o mesmo número que na região Leste (Cuando Cubango, Lunda Sul, Lunda Norte e Moxico). Já na província de Cabinda o 65% teme retaliações. Na região centro (Benguela, Bié, Cuanza Sul e Huambo) 44% teme retaliações, ao passo que nas regiões Norte (Uíge e Zaire) e Centro Norte (Bengo, Cuanza Norte e Malange) os números rondam os 51% e 53%, respectivamente. Na região Sul (Cunene, Huíla e Namibe), 44% dos angolanos que aí vivem não se sentem confortáveis em denunciar actos de corrupção.
Os dados indicam que há ainda um longo caminho a percorrer para que o combate a corrupção seja feito de forma eficaz. A credibilidade das instituições precisa de crescer para que o cidadão se possa juntar aos esforços do governo.
Em Angola a corrupção ganhou contornos tais que inviabilizam programas e políticas que visem o crescimento do país. Só o empenho de todos poderá pôr cobro a presente situação.
Os dados aqui apresentados são resultado de um inquérito realizado nos meses de novembro e dezembro do ano passado, e que foram divulgados pela Ovilongwa, em julho de 2020. Foram ouvidos 2.400 angolanos em todo o país. «Uma amostra deste tamanho produz resultados nacionais com uma margem de erro de 2 pontos percentuais, para mais e para menos, e um nível de confiança de 95%», diz a nota de imprensa.
Nesta Segunda-feira, a televisão portuguesa Tvi 24 publicou mais um trabalho jornalístico de investigação dando conta de que o presidente da república João Lourenço, autorizou a contratação de uma empresa de consultoria de Edeltrudes Costa, actual chefe de gabinete do chefe de estado angolano.
Um dos negócios, que tinha como objetivo a modernização dos aeroportos angolanos, rendeu vários milhões de euros em contratos públicos, e o dinheiro acabou por ir parar a Portugal, onde foi utilizado para comprar casas de luxo em Sintra e Cascais.
A reportagem da Tvi indica também que Eldetrudes Costa enviou ainda dinheiro para o Panamá, utilizando uma sucursal do então Banco Espírito Santo (BES) na zona franca da Madeira. Vamos acompanhar parte da reportagem do canal português.
Alguns comentaristas da Rádio Ecclesia reagiram na reportagem de Júlio Muhongo
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