«Armas de fogo em posse ilegal podem estar a sair de armeiros ou paios das FAA e da PN» - Diz Paulo de Almeida

«Armas de fogo em posse ilegal podem estar a sair de armeiros ou paios das FAA e da PN» - Diz Paulo de Almeida

O segundo comandante-geral da Polícia Nacional e coordenador da Comissão Nacional para o Desarmamento da População Civil admitiu que as armas de fogo em posse ilegal da população civil podem estar a sair de armeiros ou paióis das Forças Armadas Angolanas ou da Polícia Nacional.

"A qualidade das armas apreendidas muitas vezes leva-nos a essa dedução", disse Paulo de Almeida em entrevista ao Jornal de Angola.

Segundo a Angonoticias, o comissário-chefe anunciou o reforço das acções, em função do aumento da criminalidade com recurso à mão armada. A comissão vai reunir dentro de dias para analisar a campanha de desarmamento da população e imprimir uma nova dinâmica para melhorar a segurança pública.

P- Qual o curso actual da campanha nacional de desarmamento em Angola?

R - Vamos brevemente dar um impulso ao processo de desarmamento da população civil em posse ilegal de armas de fogo. Admitimos que a comissão esteve durante um tempo longo inactiva, e isso fez com que o processo não tivesse uma dinâmica ao nível desejado. Agora temos condições criadas para retomarmos o trabalho, com maior energia e dinâmica.

P - O que provocou a paralisação da campanha de desarmamento da população?

R - Foram vários factores. A Constituição da República aboliu algumas figuras de coordenação da comissão, como a de Primeiro-ministro, e criou novas entidades. O processo começou em 2008 com bons resultados, mas conheceu um abrandamento na sua dinâmica anos depois.

P – Tem outros factores que dificultaram a implementação do programa?

R - A falta de verbas foi também outro motivo. Não tínhamos como financiar algumas acções, dificultando o desempenho da comissão. Mas não parámos, porque a subcomissão técnica sempre funcionou. Realizamos sempre as nossas missões, que eram inicialmente sensibilizar a população para entregar as armas de fogo e depois a recolha coerciva.

P - O aumento da criminalidade no país com arma de fogo justifica uma maior actuação da comissão?

R - Estamos preocupados com os índices criminais cometidos com armas de fogo. Precisamos determinar se de facto o número de armas já recolhidas trouxe uma diminuição substancial ou não dos rimes cometidos com recurso à arma de fogo.

P – É possível quantificar os crimes cometidos com recurso à mão armada?

R - Os casos são diários. A comissão tem o papel de sensibilizar, mobilizar e divulgar os perigos que uma arma provoca na sociedade. Quando a Polícia tira a arma de um delinquente, esse indivíduo tem de ser reintegrado na sociedade.

P – Têm o apoio de outras instituições do Estado?

R - A Comissão Nacional de Desarmamento da População Civil não é da responsabilidade da Polícia Nacional. É um órgão multissectorial, que precisa da contribuição da sociedade. O papel da Polícia é recolher as armas, mas há outras componentes que determinam a eficácia da campanha. Contamos com o apoio da Comunicação Social, igrejas e da população.

P - Isso quer dizer que ainda há muito por fazer?

R - Sim. Estamos na fase de transformação das mentes, porque o que precisamos é fazer com que o cidadão seja desencorajado de ter uma arma em sua posse. É este o trabalho que temos e que levou à prorrogação da campanha de desarmamento da população civil, mas para chegarmos a isso temos de fazer ainda muito trabalho. Estamos a trabalhar no sentido de fazer mais uma prorrogação da comissão porque ainda temos muita arma de fogo nas mãos dos cidadãos.

P - Será que as armas estão a voltar aos delinquentes?

R - Não há hipóteses de isso acontecer porque grande parte delas foi destruída, e as que estavam em bom estado foram entregues aos órgãos competentes. Ainda há um grande número de pessoas que resistem em fazer entrega das armas, alegando protecção e segurança e outros que têm como relíquia por terem-na adquirido no tempo de guerra. Também não descartamos a hipótese de que essas armas possam estar a sair de alguns armeiros ou paióis das Forças Armadas Angolanas ou da Polícia Nacional. A qualidade das armas apreendidas muitas vezes leva-nos a essa dedução.

P – O que pensam fazer este ano?

R - Vamos intensificar a sensibilização, mobilização e divulgação da campanha junto da sociedade civil, em função do papel importante que tem para a eficácia da campanha. As acções de sensibilização para a entrega voluntária vão continuar. Quem quiser entregar a arma voluntariamente pode fazê-lo enquanto decorre a recolha coerciva.

P - Luanda continua a ser a província com o maior número de armas na mão da população civil?

R - Sim. Por ser o maior centro populacional do país e também pelo facto de muitos cidadãos que deixam as suas províncias levam para a capital as suas armas. Por isso, temos muito trabalho por fazer.