O jornalista português Paulo Ramiro Catarro disse hoje, quarta-feira, em Luanda, que a investigação jornalística implica falar com muita gente, ir a diversos locais, mobilizar vários meios técnicos e fazer registos diários que vão credibilizar a investigação e valorizar o trabalho final.
Paulo Ramiro Catarro fez esta afirmação quando dissertava sobre o tema "A investigação jornalística: Entre a prática e a teoria", inserido no Seminário Internacional sobre Comunicação e Cidadania, iniciado nesta terça-feira, em Luanda.
Segundo Paulo Catarro, o jornalista na sua acção investigativa ou no seu exercício laboral independente, não deve ser um agente de contra-poder, mas sim um veículo de transmissão de informação e não um justiceiro, porquanto o jornalista não pode perder a capacidade crítica e a imparcialidade, de modo a preservar a sua credibilidade.
"O jornalismo e a investigação estão ligados de tal forma que obrigam o jornalista a ter os cinco sentidos muito activos, daí que o profissional de comunicação social deve estar atento a tudo que lhe chega, como ponto de partida para uma investigação jornalística", frisou.
Lembrou que o jornalista não pode se esquecer, como primeira regra antes de iniciar uma investigação, de procurar saber de onde vem a informação e que repercussão terá, enquanto premissas que vão definir se vale a pena tratar da informação ou não, tendo em conta as consequências.
Para si, o jornalista não se pode esquecer de questões básicas como a preservação do bom nome, porque um erro jornalístico pode manchar a reputação e a vida de uma pessoa, o que é inaceitável no exercício da profissão que serve o interesse público, mas pode colidir com interesses pessoais.
Neste contexto, o profissional deve insistir em saber com todo cuidado e independência, a origem da fonte que fez chegar a informação, tentando, a todo custo, se distanciar do caso em questão, o que se denomina pré-investigação e permite ao profissional chegar a conclusões sobre a qualidade de informação adquirida.
Acrescentou haver necessidade de conferir um clima de confiança as fontes, em função das repercussões do que se transmite aos receptores das mensagens, tendo sempre o cuidado sobre o que a investigação impõe, como saber se a informação vai afectar alguém, se o jornalista está a ser manipulado ou não.
Por sua vez, a administradora executiva da Angop para informação, Luísa Damião, que moderou o tema, considerou "a investigação como um dos géneros nobres do jornalismo e também o trunfo da imprensa democrática. São vários os autores que consideram o jornalismo investigativo como fundamental para a democracia, mas perigoso se não for ético e responsável".
Para si, o jornalismo de investigação pode ser entendido como a busca da verdade oculta, ou mesmo como uma reportagem em profundidade onde a informação deve ser trabalhada mais a fundo, bem documentada, verificada, contextualizada e investigada sob todos os ângulos.
O jornalista, acrescentou, deve partir sempre do princípio que qualquer investigação que se preze deve primar pelo rigor e profissionalismo, bem como abrangente na busca de dados, evitando a superficialidade no tratamento das questões.
O Seminário Internacional sobre Comunicação e Cidadania, sob a égide do Centro de Formação de Jornalistas (Cefojor), contou com a participação de prelectores angolanos e portugueses.
O evento destina-se a profissionais da Comunicação Social, colaboradores, organismos nacionais e internacionais e interessados de Luanda e demais províncias, bem como Organizações Não-Governamentais.
O workshop analisa a problemática da responsabilidade social e os limites que orientam a prática da comunicação social, visando a salvaguarda dos direitos constitucionais dos cidadãos no âmbito da cultura da regulação.
Analisa temas como a problemática do jornalismo de investigação como factor de credibilização, sensibilizando os jornalistas para a necessidade de respeitarem os princípios ético-deontológicos da profissão.
O seminário, que contou ainda com a participação de jornalistas da imprensa privada e representantes de partidos políticos da oposição, no âmbito do incentivo da iniciativa privada nacional no domínio da Comunicação Social, teve igualmente como prelectores profissionais da imprensa privada.