O sucesso da Noruega em trazer o governo e os rebeldes da Colômbia para a mesa de negociações pode marcar o fim de uma era em que Oslo ganhou notoriedade por mediar conflitos diplomáticos, como ocorreu no acordo de 1993 entre israelenses e palestinos.
Pequenos Estados vêm perdendo a influência como mediadores, à medida que o mundo se torna mais multipolar, e potências regionais afirmam a autoridade além das suas fronteiras, segundo especialistas.
Essa tendência tem retirado os pequenos atores dos grandes processos diplomáticos, deixando a ajuda internacional como principal ferramenta de política externa para nações pequenas mas ricas, como a Noruega.
"Acho que a ‘Noruega pacificadora' é um mito conveniente hoje... (mas) são dias que ficaram para trás", disse Janne Haaland-Matlary, ex-chanceler da Noruega.
A Noruega é a sede do Prêmio Nobel da Paz, e assumiu um papel diplomático importante no final da Guerra Fria, quando buscou ocupar um vácuo deixado pelo colapso das rivalidades entre Ocidente e Oriente.
Com apenas 5 milhões de habitantes, nos confins da Europa, a Noruega assumiu o protagonismo na primeira reunião frente à frente entre israelenses e palestinos, o que levou a um acordo em 1993. O país foi crucial também no acordo de 1996 que encerrou 36 anos de guerra civil na Guatemala.
Os esforços noruegueses para encerrar conflitos no Sri Lanka e nas Filipinas e para trabalhar com Cuba tiveram menos êxito, mas o envolvimento foi notado pelo resto do mundo e garantiu à Noruega um acesso aos mais elevados escalões diplomáticos.
"O Sri Lanka deixou Londres interessado. Cuba deixou os EUA interessados", disse Haaland-Matlary, que também leciona na Universidade de Oslo.
No caso da Colômbia, o envolvimento norueguês começou há quase duas décadas, quando diplomatas do país trabalhavam na Guatemala.
A Venezuela e Cuba também acompanham o processo, e por isso os EUA têm muito interesse. Mas um papel direto dos EUA seria prejudicial para uma conclusão positiva, então a Noruega --país integrante da Otan e forte aliada dos EUA-- serve como uma perfeita "fachada".
"Dada a relação especialmente boa da Noruega com os EUA, eu não me surpreenderia se os EUA, que têm um interesse substancial no processo colombiano, talvez achem oportuno encorajar a Noruega como facilitadora aparentemente neutra na frente do palco", disse Tone Bleie, que dirige o Centro para Estudos da Paz em Tromsoe, no Ártico norueguês.
O governo colombiano e a guerrilha Farc iniciaram na quarta-feira suas negociações a portas fechadas em Oslo, e o processo deve posteriormente ser transferido para Havana.
As autoridades norueguesas evitam assumir qualquer mérito por promover a negociação, e rejeitaram repetidos pedidos para comentar o assunto.
Mundo multipolar
Cada vez menos, porém, a Noruega deve ter a opção de assumir esse papel. "Esse jogo está mudando, em um mundo cada vez mais multipolar", disse Bleie. "Há China, Brasil, Rússia, Índia e Turquia, todos desempenhando importantes papéis regionais, com a China buscando um papel global. A hegemonia dos EUA está sob pressão considerável."
Países menores, como Noruega, Suécia, Suíça e Holanda --todos sempre dispostos a mediar conflitos--, acabam com uma fatia menor do bolo na busca por influência internacional. Assim, a ajuda é o plano B.
Suécia, Noruega e Holanda são os maiores fornecedores de ajuda internacional em termos proporcionais ao seu PIB, segundo a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico.
A Noruega gastou 4,9 bilhões de dólares em ajuda internacional em 2011, contribuindo com mais de cem países na América Latina, África e Ásia, segundo a Norad, agência norueguesa de desenvolvimento.
Nos últimos anos, Oslo prometeu 1 bilhão de dólares para a preservação de florestas no Brasil e Indonésia, e dá 135 milhões de dólares por ano para o desenvolvimento econômico do Afeganistão. Além disso, o país distribui dinheiro na África, e deu mais de 100 milhões de dólares em 2011 à Tanzânia, nação emergente na produção de gás e petróleo.