Os Estados Unidos recorreram ao uso excessivo da força contra os imigrantes na fronteira mexicana, denuncia o departamento de direitos humanos das Nações Unidas.
“Ocorreram muitas mortes de jovens e adolescentes na fronteira”, declarou à agência noticiosa Reuters Navi Pillay, alta comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos. “As informações que tenho é de um uso desmedido da força por parte das patrulhas fronteiriças”, acrescentou. Além da brutalidade policial, as Nações Unidas denunciaram ainda a falta de cooperação das autoridades norte-americanas na investigação de homicídios na região, muitos deles de jovens.
Foi a morte de um adolescente mexicano a 10 de Outubro, atingido na cabeça quando os agentes americanos perseguiam um grupo de traficantes que tentava passar a fronteira em Nogales (Arizona), que aguçou a polémica. A vítima tinha 16 anos e chamava-se José Antonio Elena Rodríguez.
Segundo a Associated Press, o episódio aconteceu perto das 23h30, quando as autoridades decidiram aproximar-se do lado mexicano em perseguição de dois traficantes que tinham acabado de deixar um carregamento de drogas em solo americano. Um grupo de pessoas começou, então, a atirar-lhes pedras e, perante a agressão, um dos agentes terá aberto fogo no meio da multidão, atingindo o jovem.
A Reuters acrescenta, por seu lado, que na troca de tiros que se seguiu, entre polícias e traficantes, Rodríguez foi atingido mais sete vezes nas costas.
Este não é o primeiro adolescente a morrer na fronteira. Em 2010, Sergio Hernandez perdeu a vida num incidente com pedras perto de El Paso, na fronteira Texas-Juarez. Tinha apenas 15 anos.
A contestação ao abuso de força dos agentes fronteiriços já levou a reacções no governo Mexicano. O ministro dos Negócios Estrangeiros disse à Reuters que o relatório preliminar à morte de José Antonio Elena Rodríguez cria “sérias dúvidas sobre o comportamento agressivo dos agentes dos Estados Unidos que patrulham a fronteira, numa atitude que tanto os governos dos dois países como a sociedade deviam condenar”.
Num comunicado oficial, o governo acrescenta que “a frequência deste tipo de casos é fortemente repudiada pela sociedade mexicana e por todas as forças políticas do país”.
A alta comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos aproveitou a atenção dos media sobre o caso Rodríguez para pedir ao México e aos Estados Unidos que investiguem de forma célere e transparente o “uso desproporcionado da força” em todos os postos de controlo da imigração, que é “inaceitável em qualquer circunstância”.
Nos últimos anos, vários mexicanos foram vítimas da patrulha fronteiriça norte-americana. Na lista da AP estão nomes como o de Anastacio Hernandez, 32 anos, espancado até à morte ainda algemado, em San Ysidro, há dois anos. Em Março de 2011, um traficante de marijuana com 19 anos, Carlos la Madrid, foi alvejado quatro vezes quando tentava chegar ao México, trepando o muro.
Em Julho deste ano, outro imigrante foi morto a tiro perto do Rio Grande, junto a Brownsville, no Texas. Nestes dois últimos casos, os agentes estavam a ser apedrejados. Mais recentemente, a 2 de Outubro, as balas atingiram uma mulher de 32 anos que terá atropelado o agente que viria a disparar sobre ela, que continuou a conduzir com ele agarrado ao capô. Valeria Alvarado tinha cinco filhos.
Desde 2010, e ainda segundo a AP, dois agentes foram mortos: Brian Terry, de 40 anos, e Nicholas Ivie, de 30. O primeiro foi atingido por um atirador mexicano, o segundo, muito provavelmente, foi vítima de “fogo amigo” quando patrulhava um conhecido corredor usado pelo narcotráfico perto de Naco, no Arizona.