A oposição egípcia organiza uma manifestação nesta terça-feira em direção ao palácio presidencial para protestar contra o novo governo do presidente Mohamed Mursi, considerado "ditatorial", e contra um projeto de Constituição que deve ser submetido a um referendo em menos de 15 dias.
Vários grupos e partidos de oposição pediram que os egípcios se reúnam e façam uma passeata "pacífica" no final da tarde rumo ao palácio de Al-Ittihadiya, em Heliópolis, periferia do Cairo, para uma manifestação chamada de "aviso final".
Entre eles estão os jovens do movimento 6 de Abril, que ajudou a iniciar a revolta contra Hosni Mubarak no início de 2011, e o Partido da Constituição do Nobel da Paz, Mohamed ElBaradei.
A segurança foi reforçada em torno do palácio presidencial com o envio de tropas de choque, de acordo com uma fonte da segurança. Algumas lojas e escolas devem fechar mais cedo do que o habitual.
O Egipto passa por uma profunda crise política que dividiu o país depois do decreto de 22 de novembro, através do qual Mursi, o primeiro presidente islamita do país, ampliou seus poderes. Ele colocou suas decisões e a Comissão encarregada de redigir a futura Constituição sob a proteção de qualquer ação legal.
Opositores e partidários de Mursi têm realizado manifestações em massa após o decreto. Além disso, o anúncio da realização do referendo sobre o projeto de Constituição em 15 de dezembro aumentou o abismo entre os dois lados.
O chefe de Estado promete que seu decreto é temporário e que tem como objetivo acelerar as reformas democráticas. Já a oposição acredita que o presidente passou a ter poderes "ditatoriais" e exige o cancelamento de seu decreto e do referendo.
Mas as autoridades persistem em sua posição e os egípcios no exterior poderão votar a partir de sábado, dia 8 de dezembro.
O projeto da lei fundamental, aprovado às pressas por uma comissão dominada por islamitas, é acusado de não proteger alguns direitos fundamentais, incluindo a liberdade de expressão, e de abrir a porta para uma aplicação mais rigorosa da lei islâmica.
Nesta terça-feira, o opositor e ex-chefe da Liga Árabe, Amr Moussa, que se retirou da Comissão Constitucional, disse aos jornalistas que o texto não contém as liberdades que devem ser garantidas no século XXI.
"O documento deve ser algo que torne a vida mais fácil para os egípcios (...), não algo que requer uma interpretação difícil, o que assusta as pessoas. Estamos no século XXI", declarou.
"O Egipto aceitará que um grupo imponha sua Constituição?" questionou o analista político Hassan Nafaa.
Para protestar "contra a tirania" e contra os artigos sobre a imprensa e as liberdades no projeto de Constituição, vários jornais independentes e da oposição decidiram fechar suas portas nesta terça. Os canais privados devem participar do protesto na quarta-feira.
O Judiciário, proibido pelo presidente de contestar as suas decisões, está tão dividido quando o país.
O Conselho Superior da Justiça decidiu na segunda-feira delegar aos juízes a função de supervisionar o referendo, apesar do boicote de vários juízes, abrindo caminho para a realização da votação. As eleições devem de fato ser colocadas sob vigilância judicial no Egipto.
O Clube de Juízes, um sindicato profissional que representa os juízes de todo o país, anunciou no domingo que iria boicotar o referendo convocado por Mursi. E o Supremo Tribunal Constitucional se juntou ao Supremo Tribunal Federal e a outros tribunais do país na greve por tempo indeterminado para protestar contra a "pressão" dos islamitas.
De acordo com especialistas, a decisão do Conselho Superior de Justiça não é vinculativa, mas significa que os juízes estão dispostos a supervisionar o referendo.