O padre Diamantino Antunes, diretor do Centro Catequético do Guiúa, em Moçambique, apresenta hoje no Porto o livro ‘Véu de morte numa noite de luar’, que narra a história dos 23 catequistas mortos há 20 anos naquela instituição.
Na madrugada de 22 de março de 1992 as famílias que frequentavam um curso no Centro foram “sequestradas, interrogadas e levadas para um local a 3 km da instituição” por militares da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), contou o sacerdote ao programa ECCLESIA transmitido esta quarta-feira na RTP-2.
“Morreram 23 catequistas, massacrados à baioneta. Alguns fugiram e conseguiram sobreviver, enquanto algumas crianças foram poupadas”, recordou o missionário da Consolata, acrescentando que o acontecimento “marcou profundamente Igreja em Moçambique”.
Já em 1987 a mesma organização militar, que combatia o regime governamental da Frelimo, tinha morto um catequista e raptado várias famílias do Centro, sucessivamente encerrado e reaberto devido à guerra civil.
“Estes mártires da fé representam muitos desconhecidos, leigos e missionários”, mortos nos conflitos ocorridos em Moçambique, primeiro contra Portugal, antes da independência, em 1975, e durante a guerra civil que começou em 1976 e terminou a 4 de outubro de 1992 com a assinatura do acordo de paz, em Roma, sob os auspícios da Comunidade de Santo Egídio, da Igreja Católica, referiu.
O religioso suspeita que os ataques foram motivados pelo facto de as instalações do Centro estarem próximas de um posto de abastecimento de água à cidade de Inhambane, 500 km a nordeste de Maputo, mas não afasta a possibilidade de o assassinato ter sido uma demonstração do poder da Renamo, numa época em que decorriam as conversações de paz.
“Os grandes pilares” da Igreja em Moçambique “são as comunidades cristãs, nas quais os leigos têm um papel muito ativo”, pelo que a atividade do Centro incide na formação de lideranças religiosas, a par do ensino de conteúdos como agricultura, informática, cidadania, costura e culinária, depois retransmitidos às comunidades de origem, explicou o padre Diamantino, que chegou ao país em 1992.
Na Diocese de Inhambane, que abarca um território equivalente a 2/3 de Portugal, residem 1,4 milhões de pessoas, das quais 20% se declaram católicas, indica a página do Centro de Promoção Humana do Guiúa.
O volume, com prefácio do bispo do Porto e vice-presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, D. Manuel Clemente, descreve as famílias residentes no Centro e relata o ataque, rapto, interrogatórios e morte dos catequistas, além de incluir testemunhos dos sobreviventes.
A apresentação da obra faz parte de um ciclo de conferências sobre o papel dos leigos na Igreja, que conta com intervenções do religioso e de Brazão Mazula, ex-presidente da Comissão Nacional de Eleições de Moçambique e antigo reitor da Universidade Eduardo Mondlane (Maputo).
A iniciativa começa hoje na Universidade Católica (Porto, Foz), prosseguindo na sexta-feira em Braga, no Auditório Vita, e em Ermesinde, sábado, no Centro Cultural, sempre às 21h00.
O segundo conjunto de encontros, às 21h30, está agendado para quarta-feira na Paróquia da Ramada, próximo de Lisboa, e 18 de janeiro, no Centro Missionário Allamano, dos Missionários da Consolata, em Fátima.