A Human Rights Watch denunciou a indiferença das autoridades paquistanesas perante o agravamento da violência contra os xiitas, depois de um dos dias mais negros da sangrenta história recente do país. Oitenta e duas pessoas morreram num duplo atentado contra aquela minoria em Quetta, o pior de três ataques registados quinta-feira.
“Parecia o Apocalipse. Havia corpos por todo o lado”, disse à Reuters um oficial da polícia sobre o salão de bilhar destruído pela explosão de um carro armadilhado num bairro habitado sobretudo por hazaras, minoria étnica de confissão xiita. Minutos antes, um bombista detonara ali os explosivos que transportava e foi quando a polícia e os socorristas chegaram ao local que se deu a segunda explosão. Entre as vítimas contam-se nove polícias e um activista dos direitos xiitas que escapara, horas antes, a um outro atentado contra um mercado da cidade, no qual morreram 11 pessoas.
O duplo atentado foi reivindicado pelo Lashkar-e-Jangvi, um grupo extremista sunita, banido pelas autoridades, e que tem na minoria xiita um dos seus principais alvos. Entre as suas acções contam-se disparos contra civis e atentados contra cerimónias religiosas – actos muito idênticos aos que, entre 2005 e 2007, colocaram o Iraque à beira de uma guerra sectária.
“O ano passado foi o mais sangrento para os xiitas de que há memória”, disse Dayan Hasan, responsável do grupo de defesa dos direitos humanos, que contou 400 vítimas da violência sectária. A situação, acrescenta, é ainda pior para o meio milhão de hazara de Quetta que, pelo seu dialecto e aspecto distinto, se tornam alvo fácil para os extremistas sunitas. “Eles vivem num estado de sítio. Se saírem do seu gueto arriscam-se a morrer”, disse o activista, acusando as “forças de segurança, o Governo e os juízes” de ignorarem a sua situação.
Nesta sexta-feira, o líder de uma organização que representa vários grupos xiitas avisou que as 82 vítimas do duplo atentado não serão sepultadas até o Exército assumir o controlo de Quetta, capital da província do Baluchistão, uma das mais instáveis do Paquistão, onde as forças de segurança enfrentam não só a ameaça dos extremistas sunitas e da rebelião taliban, como uma insurreição independentista. Num episódio raro no país, Maulana Amin Shaheedi aproveitou os funerais para criticar directamente o poderoso chefe do Estado-Maior, o general Ashfaq Kayani, pela ineficácia das suas forças. “Nos últimos anos que está no cargo não nos deu nada a não ser morte”.
As autoridades locais anunciaram entretanto três dias de luto em memória das 95 vítimas dos dois atentados, a que se juntou, no também instável distrito de Swat (noroeste) a explosão de uma bomba na sede de um movimento religioso. Vinte e duas pessoas morreram.
Público