O regime de Bashar al-Assad criou unidades paramilitares integralmente femininas, grupos de “amazonas” que juram fidelidade ao Presidente e cuja missão é colaborar no combate do Exército da Síria contra as forças revoltosas que há quase dois anos lutam para fazer cair o Governo.
Abir Ramadan, uma técnica de laboratório de radiologia de 40 anos, integra a primeira unidade feminina das forças da defesa nacional, e agora “patrulha” a cidade de Homs, no Centro do país, armada de metralhadora e de capacete. “O meu marido encorajou-me a alistar-me e achei uma boa ideia. Apresentei-me e fui logo recrutada”, conta, acrescentando que o fez porque “a pátria está ferida” e a precisar de ajuda.
Esta mulher que “não se arriscava a ficar sozinha em casa com medo de ser atacada”, nem “ousava pegar numa arma”, agora vigia as entradas num dos estádios da cidade, ao lado de outras fedaïyate (literalmente, “aquelas que se sacrificam”).
Também foi a vontade de “apoiar o Exército e defender a pátria” que levou Itidal Hamad, uma funcionária pública de 34 anos e mãe de três filhos, a oferecer-se para as fileiras de combate femininas. E é o seu desejo de proteger o Presidente que a leva a gritar todos os dias, como as suas companheiras de armas: “Sacrificaremos o nosso sangue e a nossa alma por ti, Bashar!”.
O Observatório Sírio para os Direitos Humanos, uma organização não-governamental com sede em Londres, estima que a brigada feminina já conte com mais de 450 “amazonas”, com idades compreendidas entre os 18 e os 50 anos. O regime apresentou a nova formação à imprensa esta terça-feira, numa clara operação de propaganda.
A comandante Nada Jahjah, que supervisiona o treino e formação das paramilitares, explica o pensamento por trás da constituição desta unidade. “Trata-se de uma força voluntária. O serviço pode ser cumprido em dois horários, entre as 8h e as 12h ou entre as 12h e as 16h, para que as combatentes possam manter o seu emprego”.
“O treino abarca o tiro com metralhadoras Kalashnikov e BKC, o manuseamento de granadas, o controlo de multidões, a realização de buscas e acções de vigilância e ainda ensinamentos de tácticas militares”, enumera.
Nada Jahjah arrisca explicar a motivação destas mulheres, que trocam as famílias pelas trincheiras: “Vivemos em circunstâncias trágicas. Esta não é uma guerra normal. Desta vez, o inimigo pode ser alguém da nossa família, pode ser um dos nossos vizinhos. É uma guerra selvagem”.
A cidade de Homs é considerada a “capital da revolução”, lançada em Março de 2011 contra a repressão do regime de Bashar al-Assad. O conflito, que se prolonga desde então, já fez mais de 60 mil mortos, de acordo com as Nações Unidas.
Rússia começa a retirar cidadãos
Entretanto, a Rússia começou, na segunda-feira, a retirar os seus cidadãos da Síria, uma decisão que os analistas lêem como uma reviravolta significativa em termos da sustentação do regime de Assad. Isolado pela comunidade internacional, o Presidente sírio conta apenas com o apoio de Moscovo e de Pequim para impedir que as resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas impondo sanções contra Damasco sejam aprovadas.
Por enquanto, a operação russa de repatriamento envolve apenas 100 pessoas, sobretudo mulheres e crianças, que serão transportadas em autocarro até ao Líbano e, daí, de avião de volta a casa. Mas, tendo em conta que há milhares de russos na Síria cuja segurança poderá ficar comprometida no caso da derrota de Assad, a pressão para novas missões poderá aumentar.
Segundo o analista Alexei Malashenko, do ramo de Moscovo do Carnegie Endowment for International Peace, a operação russa "é um sinal de desconfiança em Assad, que parece na iminência de ser afastado do poder". Segundo disse à Al Jazira, existe uma grande preocupação no Kremlin de que a queda de Assad "gere uma onda de vingança contra aqueles que são vistos como os seus apoiantes", nomeadamente os russos que vivem na Síria.
Público