Promotores pediram uma sentença mais dura para o ex-presidente liberiano Charles Taylor nesta terça-feira, dizendo aos juízes de crimes de guerra em Haia que ele desempenhou um papel direto nos crimes contra a humanidade durante a guerra civil em Serra Leoa.
Enquanto isso, a defesa de Taylor, que quer a sua condenação anulada, escreveu nos documentos para o tribunal que julga os dois recursos que a condenação foi "atormentada com inconsistências internas, distorções de evidências e descobertas conflitantes".
Taylor, 64 anos, foi condenado a 50 anos no ano passado depois de ter sido considerado culpado por colaborar e incentivar crimes de guerra e crimes contra a humanidade durante a guerra de 11 anos na vizinha Serra Leoa, em que cerca de 50.000 pessoas morreram em 2002.
Ele não foi considerado culpado de ordenar ou planejar as atrocidades.
Mas os promotores disseram na audiência de apelação desta terça-feira que o envolvimento de Taylor foi além de ajudar a cometerem os crimes, dizendo que ele deveria ser condenado por cometer diretamente os crimes de guerra e por instigá-los.
Eles também pediram que sua pena de prisão seja aumentada para 80 anos, o que tinham originalmente exigido em maio de 2012.
"Ele estava ciente dos crimes (cometidos em Serra Leoa), por meio de suas próprias fontes, como presidente da Libéria, e por meio de relatos da mídia", afirmou Brenda Hollis, promotora-chefe do Tribunal Especial para Serra Leoa, na audiência desta terça-feira.
Vestido com um terno escuro e uma gravata vermelha brilhante, Taylor se inclinou para frente, com as mãos entrelaçadas, ouvindo atentamente, em uma ex-quadra de basquete sem janelas em um subúrbio de Haia.
Os promotores apresentaram seu processo de recurso pela manhã, e a equipe da defesa assumirá na parte da tarde.
Ao longo de mais de uma década de conflito brutal, os rebeldes da Frente Revolucionária Unida assassinaram, estupraram e mutilaram em toda a Serra Leoa.
Em troca do fornecimento de armas e munições para o conflito, Taylor recebeu "diamantes de sangue", como eram conhecidas as pedras das zonas de conflito de Serra Leoa, incluindo um diamante de 45 quilates e dois diamantes de 25 quilates.
A acusação argumenta que o relacionamento era ainda mais próximo, e que Taylor estava no comando direto dos rebeldes enquanto eles aterrorizaram a população civil.
"Qual foi a reação de Charles Taylor a todos esses relatos de atrocidades?", perguntou Nicholas Koumjian, um membro da promotoria. "Enviar mais munição."
Suas ações eram prova de seu envolvimento direto nos crimes, acrescentou Koumjian. Quando Taylor instruiu Sam Bockarie, um comandante da FRU, para tornar o ataque na capital de Serra Leoa, Freetown, "assustador", ele sabia que a brutalidade poderia ocorrer, disse Koumjian.
"Ele estava dizendo isso para a FRU, não para uma tropa de escoteiros", afirmou Koumjian. "Colocar a cabeça das pessoas em varas. Isso é o que tornar ‘assustador' significava."
As audiências de apelação continuam na quarta-feira.
Reuters