O porta-voz do governo de transição na Guiné-Bissau, Fernando Vaz, disse que Portugal cometeu “erros crassos” na resposta à crise no país africano e defendeu que “é chegado o momento” de Lisboa reconhecer o executivo de transição, instaurado após o golpe militar de Abril do ano passado.
Em entrevista à Lusa em Lisboa, onde se deslocou para participar no funeral de Domingos Fernandes, fundador do partido Resistência Guiné-Bissau (Movimento Bafatá), Fernando Vaz afirmou que, "apesar de toda a ignorância que o governo português faz da realidade guineense“, o executivo de transição na Guiné "continua aberto”, a uma aproximação para que seja encontrada "uma solução" para o país africano.
Portugal, tal como a maioria da comunidade internacional, não reconhece o governo de transição, que entrou em funções depois do golpe de Estado de 12 de Abril de 2012, que depôs o primeiro-ministro eleito, Carlos Gomes Júnior, agora exilado em Portugal.
“Entendemos que é chegado o momento, vivendo esta nova conjuntura de reconhecimento do governo pelo Banco [Mundial] e por outras instituições, que o governo português também o faça”, disse, na entrevista divulgada neste sábado.
O Banco Mundial anunciou recentemente a retoma dos projectos que tinha em curso na Guiné-Bissau e foram suspensos após o derrube do governo eleito, embora só esteja disposto a avançar com novos apoios depois do levantamento das sanções instauradas pela comunidade internacional a Bissau.
Fernando Vaz, ministro de Estado, da Presidência, Assuntos Parlamentares e Comunicação Social do executivo instaurado após o golpe, considera que, desde Abril, Portugal tem cometido “erros crassos”, propondo a “apologia da resolução do problema da Guiné-Bissau pela violência”. Para o porta-voz, a posição de Portugal é condicionada pela sua relação com Angola, que antes do golpe de Estado tinha uma força militar estacionada em Bissau, na sequência de um acordo com as autoridades de então.
Nesta deslocação a Lisboa, Fernando Vaz pediu reuniões com a Presidência da República e o Governo, sem obter respostas, nem sequer ao nível informal. O político guineense disse ter sido alvo de tentativas de represálias.
“Chamaram a minha esposa, que é portuguesa, ao SEF [Serviço de Estrangeiros e Fronteiras], intimidando e querendo estabelecer algum clima desfavorável à minha vinda cá a Portugal. Mas, com a intervenção de um advogado amigo, nós conseguimos resolver o problema”, acusou. “Se Portugal entender que eu sou persona non grata que o declare e eu não venho cá mais”, afirmou também.