O Governo cubano deu na quarta-feira um passaporte à blogger dissidente cubana Yoani Sánchez, que foi várias vezes proibida de abandonar o país pelas autoridades. Sánchez pedira-o ao abrigo da lei em vigor desde 14 de Janeiro, que permite à maioria dos cubanos viajarem sem autorização prévia (dirigentes e desportistas continuam a precisar de permissão).
"Incrível! Telefonaram-me para casa para me dizer que o passaporte estava pronto", escreveu na rede social Twitter a blogger, de 37 anos, filóloga de formação e autora do Generación Y, muito crítico do Governo cumunista da ilha cubana.
Antes da aprovação e entrada em vigor da nova lei, Sánchez, e de acordo com a AFP, pedira nove vezes autorização para sair de Cuba, tendo recebido sempre resposta negativa. A lei anterior determinava que um cubano necessitava de uma autorização para viajar e, além disso, exigia uma carta-convite de uma pessoa a viver no país de destino.
O processo era, depois, analisado individualmente e emitida uma resposta positiva ou negativa.
As autoridades cubanas consideraram o blogue de Yoani Sánchez "ciberterrorismo" impulsionado e financiado pelos Estados Unidos da América – a irmã da blogger vive neste país, na Florida.
Sanchez – que a revista Time colocou na lista das cem pessoas mais influentes do mundo por considerar o seu blogue um dos 25 mais importantes do mundo –, que escreve para o jornal El País, contava na edição de ontem do jornal espanhol a saga da obtenção do passaporte.
"Fui ao Departamento de Imigração para saber se iria finalmente conseguir aquele livrinho de capa cartonada azul com o escudo da república estampado. A resposta da funcionária confirmou-me que o dia começara mesmo mal: ‘Venha para a semana, está tudo atrasado.’" Achou que tinham mudado de ideias e que não lho iam dar, e então o telefone tocou e era a Imigração a dizer que já estava pronto. "Hoje levantei-me com o livrinho à cabeceira. Agarrei-o novamente. Este dia começou bem, pensei, enquanto o punha pela enésima vez frente aos olhos."
"Estou feliz e estou triste. Por um lado, tenho o documento que me permite viajar. Mas amigos como Angel Moya [outro dissidente, antigo preso político que também pediu passaporte e foi recusado] nunca o conseguirá", disse no Twitter, citada pela Reuters. Não revelou se tem planos para viajar em breve, expressou apenas que, se partir, terá saudades de Havana: "A Havana das luzes e das sombras, do cheiros a suor e gasolina. Tenho saudades dela e ainda não parti."