Ehud Barak quebrou o silêncio do Governo israelita sobre o ataque aéreo de quarta-feira na Síria. Sem chegar a confirmar a autoria do bombardeamento, o ministro da Defesa disse que a acção "provou que quando Israel diz uma coisa fala a sério". Pouco depois, o Presidente Bashar al-Assad acusou o país vizinho de querer enfraquecer o papel da Síria na região.
"Tínhamos dito que [as forças sírias] não deveriam ser autorizadas a levar sistemas de armamento avançado para o Líbano", afirmou Barak na conferência internacional sobre segurança que decorre em Munique. O chefe da Defesa, que não fará parte do novo Governo de Benjamin Netanyahu, não se alongou sobre o ataque, mas o comentário fura já o protocolo habitual das autoridades israelitas de nunca comentarem acções desencadeadas em solo estrangeiro.
Quatro dias depois da acção são ainda escassos, e contraditórios, os detalhes da operação, conhecida depois de o Exército do Líbano ter denunciado a passagem de 12 aviões de combate israelitas pelo seu espaço aéreo, entre a tarde de terça-feira e a madrugada do dia seguinte.
O regime de Damasco afirmou que os aviões israelitas atacaram um centro de investigação militar em Jamarya, a poucos quilómetros da capital e da fronteira libanesa. Sábado, a televisão síria mostrou imagens de veículos militares calcinados e de um edifício destruído no suposto ataque. Contudo, diplomatas e militares na região asseguram que o alvo dos aviões foram camiões carregados com armamento – mísseis antiaéreos, segundo um diplomata ouvido pelo New York Times – que se destinaria ao Hezbollah, movimento xiita libanês que é um dos mais activos e bem equipados grupos armados hostis a Israel.
Sexta-feira, a revista Time deu voz a um responsável de uma agência de serviços secretos ocidentais, segundo o qual os caças israelitas atacaram "um ou dois alvos na mesma noite" para além do Centro de Investigação e Estudos Científicos de Jamarya, unidade suspeita de coordenar o desenvolvimento de armas não convencionais. Segundo a mesma fonte, os edifícios destruídos "eram armazéns com o equipamento necessário para o fabrico de armas químicas e biológicas".
Assad adverte Israel
Em Munique, Barak disse também acreditar que a queda do regime sírio está para breve, lembrando que o Hezbollah e o Irão "são os únicos aliados que restam a Assad". "Quando isso acontecer, será um duro golpe" para ambos, acrescentou.
Mas em Damasco, o Presidente sírio transmitiu a mensagem oposta. Num encontro com Saeed Jalili, responsável pela segurança nacional iraniana, Assad garantiu que as suas forças são capazes de responder "às ameaças actuais e à agressão", segundo declarações citadas pela agência de notícias estatal SANA.
Na primeira vez que falou em público sobre o ataque – Jamarya situa-se a poucos quilómetros do palácio presidencial, numa zona fortemente guardada –, o líder sírio disse que o ataque aéreo "mostra o verdadeiro papel desempenhado por Israel, em colaboração com as forças estrangeiras e com os seus agentes em solo sírio". O objectivo desta trama "é desestabilizar a Síria e enfraquecê-la" no jogo de poderes que se joga na região, afirmou o Presidente, repetindo a tese cunhada por Damasco para explicar a revolta iniciada em Março de 2011 contra o regime sírio, hoje uma guerra sangrenta que, segundo cálculos da ONU, fez já mais de 60 mil mortos.