O Exército francês bombardeou intensamente neste domingo a região de Kidal, último reduto dos grupos islamitas armados no extremo nordeste do Mali, perto da fronteira com a Argélia, no dia seguinte à visita do presidente François Hollande, recebido como um libertador.
É nas imediações de Kidal, no maciço de Ifoghas, que estariam sendo mantidos como reféns sete franceses, segundo Paris. Mencionando brevemente sua situação no sábado, François Hollande considerou que "os sequestradores devem entender que chegou o momento de libertar os reféns".
A região de Tessalit, 200 km ao norte de Kidal, perto da Argélia, foi alvo na noite de sábado para domingo "de intensos ataques aéreos", segundo o porta-voz do Estado-Maior das Forças Armadas francesas, coronel Thierry Burkhard.
Ele indicou que foram efetuados bombardeios contra depósitos logísticos e centros de treinamento" de grupos islamitas armados ligados à Al-Qaeda, pouco mais de três semanas depois do início da intervenção militar francesa.
É também nesta vasta zona montanhosa, repleta de grutas, em torno de Kidal que, segundo especialistas e fontes de segurança regionais, boa parte dos chefes e de combatentes dos grupos islamitas se refugiaram.
Entre eles estão o argelino Abu Zeid, um dos emires mais radicais da Al-Qaeda no Magrebe Islâmico (Aqmi) e Iyad Ag Ghaly, chefe da Ansar Dine (Defensores do Islão), um ex-rebelde tuaregue malinense dos anos 1990, originário de Kidal que conhece perfeitamente a região.
Os rebeldes tuaregues do Movimento Nacional pela Libertação de Azawad (MNLA) afirmaram no sábado que haviam enfrentado na sexta uma unidade de islamitas na região de Tessalit, que terminou com a "prisão de vários jihadistas".
No sábado, o chefe de Estado francês - "Pai François Hollande", como foi chamado pelos habitantes de Timbuktu, "irmão de todos os malinenses e amigo sincero da África", segundo o presidente malinense interino Dioncounda Traoré - denunciou com veemência a "barbárie" dos grupos islamitas armados contra a cidade histórica de Timbuktu, destruída pelos jihadistas.
Ele prometeu aos malinenses que a França "ainda não terminou a sua missão" contra os "terroristas" e garantiu que os soldados franceses permanecerão ao lado dos militares malinenses para, "mais ao norte, concluir esta operação" de reconquista da integridade territorial do país.
Em Kidal, "não queremos guerra"
No entanto, mesmo que as duas principais cidades do norte do Mali, Gao e Timbuktu, tenha sido retomadas quase sem combates de grupos islamitas armados que ocupavam essas regiões há meses, a situação é mais complexa "mais ao norte", em torno de Kidal, e no maciço de Ifoghas.
Kidal, a 1.500 km de Bamaco, foi por muito tempo o reduto do Ansar Dine (Defensores do Islã), um dos grupos armados que intensificaram as violações dos direitos humanos no norte malinense.
Mas, antes mesmo da chegada dos soldados franceses que tomaram o controle do aeroporto da cidade no final de janeiro, ela passou ao controle do Movimento Islâmico de Azawad (MIA, grupo dissidente da Ansar Dine) e do Movimento Nacional pela Libertação de Azawad (MNLA, rebelião tuaregue).
Esses dois grupos asseguraram que apoiarão a França, mas exigiram que nenhum soldado malinense, nem do oeste africano, seja mobilizado em Kidal, berço tradicional das rebeliões tuaregues contra o poder de Bamaco, temendo principalmente abusos contra as comunidades, árabe e tuaregue.
Abusos contra essas etnias, assimiladas aos grupos islamitas armados, foram indicados no centro e no norte do Mali por diversas ONGs. No sábado, François Hollande e Dioncounda Traoré defenderam juntos, uma conduta "exemplar" por parte de seus soldados.
Novos reforços franceses chegaram no sábado a Kidal de avião, segundo moradores. Soldados chadianos começaram a ser mobilizados na cidade.
Segundo testemunhos de moradores, militares franceses e chadianos patrulhavam pela primeira vez no sábado as ruas de Kidal. Chadianos foram vistos no mercado da cidade.
O contingente Do Chade em Kidal seria de cerca de 150 soldados, segundo testemunhas.
A população local se mantém cautelosa. "Não sabemos o que vai acontecer. Não queremos guerra aqui", disse um ex-funcionário da Prefeitura de Kidal, contatado por telefone.
Os Estados Unidos lembraram neste domingo que não hesitarão em apoiar a França, para a qual fornecem principalmente informações e aviões de abastecimento, em sua operação no Mali, enquanto o vice-presidente Joe Biden é aguardado neste domingo em Paris, onde deve se reunir com François Hollande.