O departamento anticorrupção do Ministério Público espanhol já solicitou às autoridades tributárias espanholas o envio de toda a contabilidade do Partido Popular (PP) a partir do ano 2000, no âmbito de uma investigação lançada após a denúncia de alegados pagamentos clandestinos a dirigentes partidários e financiamentos irregulares de empresas imobiliárias e de construção civil.
De acordo com o jornal El País, que publicou na quinta-feira passada extractos do que parece ser um registo de contabilidade paralela do ex-tesoureiro do PP Luis Bárcenas, investigado há anos noutro processo, o departamento anticorrupção vai verificar a proveniência de todas as entradas e o destino de todas as saídas de dinheiro registadas nas contas do partido. Além das declarações remetidas ao fisco, também serão investigados os documentos submetidos ao Tribunal de Contas por aquela formação política, actualmente no poder.
Em causa poderá estar o incumprimento da lei de financiamento dos partidos políticos, que determina um limite máximo de 60 mil euros anuais para donativos de um contribuinte privado e que segundo os cadernos publicados terá sido várias vezes ultrapassado. Também se vai aferir se existe alguma causalidade entre os donativos entregues ao PP e a adjudicação de obras públicas às empresas em causa.
Fontes ligadas à investigação disseram ao El País que, a confirmarem-se os alegados pagamentos periódicos a todos os secretários, vice-secretários e outros membros da cúpula política do PP que estão vertidos nos cadernos da contabilidade paralela do partido, poderá haver lugar a acusações por delito fiscal se os valores em causa ultrapassarem os 120 mil euros.
Os investigadores pretendem confrontar o ex-tesoureiro do PP, Luis Bárcenas, responsável pela gestão das contas do partido entre 1990 e 2009, quando foi afastado por envolvimento num escândalo de fraude fiscal, financiamento ilegal e corrupção conhecido como a “trama Gürtel”, que envolveu muitos dirigentes do PP e empresas.
Bárcenas desmente tudo
Mas numa curta entrevista à estação 13tv, ontem à noite, Bárcenas negou todas as acusações contra ele e o partido. Diz que os cadernos divulgados pelo El País não são de sua autoria, são "uma montagem feita por alguém com acesso à contabilidade" do partido. Desmentiu que existisse uma contabilidade paralela, conforme alegam as notícias. “Nem Mariano Rajoy nem nenhum outro dirigente ou funcionário do partido recebeu qualquer pagamento indevido”, garantiu.
O ex-tesoureiro negou que “alguma vez houvesse um caderno secreto” de contas do partido e afirmou que a lista manuscrita com os nomes de figuras do partido, que foi divulgada pelo El País, não foi escrita por si. “Não é a minha letra”, frisou. Luis Bárcenas disse ainda estar disposto a submeter-se a testes de caligrafia — o El País consultou peritos que concluíram que a letra nos cadernos é a dele — e ao exame do polígrafo para provar que os documentos publicados como sendo da sua autoria são falsos.
Quanto às acusações, o ex-tesoureiro considera que são “uma operação para acossar e derrubar o partido e especialmente Mariano Rajoy, orquestrada por aqueles que não têm outra maneira de chegar ao poder”.