A guerra está aberta no interior do Partido Popular (direita), no poder em Espanha. Ontem, elementos da cúpula do partido disseram ao jornal El País que líder do PP madrileno "passou todos os limites" da "deslealdade".
A grande rival do primeiro-ministro Mariano Rajoy é a presidente dos populares em Madrid e anunciou no ano passado que se retirava da vida pública por "motivos de saúde". O jornal espanhol diz que os "marianistas" — que hoje dominam claramente o partido — respiraram de alívio.
Porém, as críticas de Aguirre devido ao Caso Bárcenas, que envolve o partido num escândalo de corrupção que pode apanhar quase toda a chefia, abriram a ferida que os populares acreditavam estar sarada.
A presidente do PP em Madrid apelou publicamente à "regeneração urgente" dos populares e da democracia. Porém, numa reunião partidária, fez duras críticas à forma como o partido está a gerir o escândalo e defendeu a demissão da ministra da Saúde, Ana Mato, apanhada num outro caso de corrupção com ramificações maiores, o Gürtel. De acordo com as fontes do El País, na reunião partidária, onde Rajoy não esteve, Aguirre enfrentou ainda a presidente da câmara de Madrid, Ana Botella (mulher do ex-presidente de um anterior Governo, José María Aznar). Aguirre "atirou-se" também à secretária-geral do partido, María Dolores de Cospedal, a quem coube a gestão do escândalo Bárcenas.
A direcção nacional do partido, que começou a ser ouvida pela imprensa espanhola, disse estar revoltada com Aguirre, que enfraquece o partido quando ele mais precisa de unidade e força. Porém, explicou uma fonte ao El País, uma sanção interna está excluída. "Não se pode abrir um processo disciplinar por uma coisa que foi dita numa reunião interna e que não é uma declaração à imprensa".
Publicamente, Esperanza Aguirre, que foi ministra da Educação e da Cultura e foi a primira mulher a presidir ao Senado, disse: "Estamos perante uma oportunidade de regeneração democrática, que já devia ter sido feita. Isto não significa que queira voltar à primeira linha da política", ou seja, que queira roubar o lugar a Mariano Rajoy.
Os "marianistas" reagiram, unindo-se contra Aguirre. E a antiga ministra da Educação e Cultura encontrou-se isolada, de um dia para o outro, uma vez que mesmo o homem mais bem posicionado para substituir Rajoy (caso este caia) também falou contra ela. "Mariano Rajoy é a referência da regeneração democrática", disse Alberto Núñez Feijóo, presidente da Junta autonómica da Galiza. "Não há um presidente que acredite mais na regeneração do que ele".
Os ataques a Aguirre têm outro objectivo: enfraquecer a sua oposição à reformulação da política de constituição das listas eleitorais, diz o El País. Em Madrid, afiança o diário, é sabido que Esperanza Aguirre e o seu grande aliado Ignacio González controlam as listas eleitorais e que "quem não mostrar lealdade absoluta sai imediatamente delas". Em última análise, os "marianistas" aproveitarão as declarações de Esperanza Aguirre em público e em privado para tentar ganhar o controlo do PP em Madrid, o que esperavam que acontecessse quando esta anunciou que saía da política activa. Aguirre, porém, mudou de ideias e manteve-se à frente dos populares na capital.
A guerra interna no PP (e em especial do PP Madrid) é um eco do Caso Bárcenas, o ex-tesoureiro do Partido Popular que é suspeito de manter uma contabilidade paralela durante pelo menos 18 anos. Receberia financiamentos ilegais de empresas, pagando salários extra (por debaixo da mesa) à maior parte da cúpula popular; Mariano Rajoy surge nas listas desta contabilidade B. O caso está a ser investigado pelo departamento anticorrupção do Ministério Público e, na quinta-feira, um juiz levantou a possibilidade de Bárcenas ficar em prisão domiciliária com pulseira electrónica, para evitar uma fuga.