A grave crise política na Tunísia sofreu uma reviravolta nesta segunda-feira, quando o partido laico do presidente tunisiano, Moncef Marzouki, decidiu permanecer na coligação governamental, dominada pelos islamitas do Ennahada, respeitando a aliança entre as duas formações e rejeitando a iniciativa do primeiro-ministro de criar um gabinete apolítico.
"Decidimos congelar nossa decisão de retirar nossos ministros do governo, mas se, em uma semana, não virmos nenhuma mudança, deixaremos o governo", afirmou Mohamed Abbou, líder do partido Congresso para a República (CPR).
O partido de centro-esquerda está pedindo a renúncia dos ministros da Justiça e das Relações Exteriores do primeiro-ministro Hamadi Jebali do partido islamita Ennahda, em meio a tensões políticas crescentes depois do assassinato do líder da oposição esquerdista.
"Dois dias atrás apresentamos a renúncia de nossos ministros, mas fomos contatados ontem à noite pelos líderes do Ennahda, que respondeu favoravelmente a todas as nossas demandas", disse Abbou em uma coletiva de imprensa.
Ele destacou que o CPR se opôs aos planos de um governo de tecnocratas não partidário, anunciado por Jebali após as manifestações públicas com a morte de Chokri Belaid, um político de esquerda e crítico feroz dos islamitas.
O assassinato provocou três dias de violentos protestos nos quais um policial morreu e outras 59 pessoas ficaram feridas de acordo com o Ministério do Interior.
"Somos contra um governo de tecnocratas, já que isso permitiria o retorno de autoridades do antigo regime" do presidente deposto Zine El Abidine Ben Ali, disse Abbou.
O Ennahda, que lidera a coligação do governo, já rejeitou o plano, revelando as divisões dentro do partido, em que ele é considerado moderado e alimentando uma crise política.
Centenas de tunisianos se manifestaram nesta segunda-feira ante a Assembleia Nacional Constituinte (ANC) para exigir a renúncia do governo e apoiar a viúva do opositor Chokri Belaid.
"Este governo deve renunciar hoje, nem amanhã ou depois de amanhã. Quando um governo fracassa, deve assumir a responsabilidade," disse ela à AFP.
Jebali, que estabeleceu a metade desta semana para formar o governo não-partidário de transição, se recusou a adotar outra postura nesta segunda-feira, afirmando que ele não "tinha outra escolha," e renovando sua ameaça de renunciar se não conseguir alcançar seu objetivo.
"A situação é urgente, há risco de violência. Eu sou responsável pelo governo, eu não posso esperar," disse o premiê ao jornal francês Le Monde.
Apesar de se opor ao plano de Jebali, Abbou do CPR o descreveu como "histórico e positivo, vendo como ele foi além de seu partido", mas insistiu na necessidade de "respeitar a legalidade" do governo eleito.
Por outro lado, o terceiro partido da coligação governamental, Ettakatol, mostrou seu apoio a Jebali através de uma figura deste partido, o ministro das Finanças, Elyes Fakhfakh, dizendo que era necessário para "garantir o melhor sucesso possível desta iniciativa".