A escritora e antiga ministra da Guiné-Bissau Odete Semedo acusou hoje o Ministério Público guineense de lhe mover um processo sem factos ou fundamentos credíveis e apenas por "perseguição pessoal".
"O processo é considerado por mim como um ato cobarde de perseguição pessoal e completamente esvaído de factos ou fundamentos que pudessem levar um órgão de polícia criminal credível a instaurar semelhante processo", disse hoje em conferência de imprensa.
O Ministério Público aplicou a Odete Semedo o termo de identidade e residência no âmbito de um processo que envolve atos praticados quando a responsável era chefe de gabinete de Raimundo Pereira, Presidente interino da Guiné-Bissau deposto no golpe de Estado de 12 de abril do ano passado.
Fonte do Ministério Público disse recentemente à Lusa que em causa estarão cerca de 350 milhões de francos CFA (mais de 500 mil euros) que a responsável terá autorizado levantar no banco e cujo destino se desconhece.
Hoje, na conferência de imprensa, Odete Semedo não quis adiantar pormenores sobre o caso, por estar em segredo de justiça.
"Apenas posso afirmar que o processo-crime contra mim instaurado baseia-se abusiva e deliberadamente na interpretação deturpada de factos e das funções que estiveram na sua génese. Antes de mim, e estou certa que mesmo neste momento continuam a ser praticados os mesmos atos, fundamentados na mesma lei, sem que em nenhum momento um órgão como Ministério Público tivesse tido a iniciativa de acusar ou sequer investigar", afirmou.
"Foi um ato lícito, previsto na lei, feito por anteriores chefes de gabinete e certamente pelos atuais", explicitou Ruth Monteiro, advogada de Odete Semedo.
Odete Semedo lamentou que a Procuradoria, "em vez de instaurar processos contra autores de espancamentos e assassinatos, se dedique a perseguir cidadãos exemplares e impolutos", acrescentando que, se no entanto tais processos foram instaurados, sobre eles o Ministério Público soube guardar segredo.
"Com a notícia assim divulgada apenas se pretendeu manchar algo que me é muito caro, a minha honra, dignidade, imagem de profissional competente, trabalhadora, impoluta e incorruptível", disse, pedindo aos titulares dos órgãos de polícia criminal, delegados do Ministério Público e tribunais para que "se abstenham de violações dos direitos dos cidadãos e da lei, como parece ter acontecido com o processo" em que está envolvida.
Odete Semedo disse ainda que foi convocada para comparecer no Ministério Público como declarante e que só lá lhe disseram que afinal não era declarante ma sim suspeita.
Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas, antiga ministra da Educação e da Saúde, escritora, Odete Semedo é investigadora do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa da Guiné-Bissau.
Foi chefe de gabinete de Raimundo Pereira, que assumiu a Presidência da República da Guiné-Bissau após a morte do Presidente eleito, Malam Bacai Sanhá, em janeiro de 2012, e que foi deposto no golpe de Estado de 12 de abril do mesmo ano.
Lusa