Desde que o canal de televisão australiano ABC News revelou o nome do enigmático “Prisioneiro X”, as peças do puzzle começaram a encaixar-se: Ben Zygier, um australiano judeu que estaria ao serviço da Mossad, foi encarcerado em Fevereiro de 2010 na cela mais isolada e mais secreta da prisão de Ayalon porque revelou aos espiões australianos pormenores que poriam em risco a segurança de Israel.
Zygier esteve dez meses numa pequena cela preparada para reduzir ao mínimo as hipóteses de suicídio, mas foi encontrado morto em Dezembro de 2010. Oficialmente a causa da morte foi suicídio por enforcamento.
Ben Zygier terá emigrado para Israel no início da década passada, onde, segundo a ABC News, acabou por ser recrutado pelos serviços secretos israelitas. Mas terá transmitido aos serviços secretos da Austrália (ASIO) informações sobre vários planos da Mossad, incluindo “uma operação ultra-secreta em Itália”, avançou esta segunda-feira o canal australiano. A ABC News não revela a identidade das suas fontes, mas avança que Ben Zygier chegou a candidatar-se na Austrália a um visto de trabalho em Itália e que era co-proprietário de uma empresa de comunicações na Europa, juntamente com outros dois cidadãos com dupla nacionalidade australiana e israelita.
O mesmo canal australiano garante ainda que Zygier “era um de três judeus australianos que mudaram de nome várias vezes e que usaram vários passaportes para viajarem pelo Médio Oriente em operações da Mossad”, por países que não permitem a entrada a pessoas com passaporte israelita.
Estas informações foram avançada pelo jornalista da ABC News Trevor Bormann, cuja investigação contribuiu também para pôr fim à mordaça colocada pelo Governo israelita aos media do país: quando Zygier foi preso na única cela da Unidade 15 da prisão de Ayalon, construída em 1995 para receber o homem que assassinou o antigo primeiro-ministro Yitzhak Rabin, um tribunal impôs o silêncio aos jornalistas israelitas, por estar em causa a segurança nacional.
Apesar de o relatório de 2013 da organização Repórteres Sem Fronteiras deixar claro que “os jornalistas em Israel gozam de uma verdadeira liberdade de expressão”, não deixa de sublinhar “a existência de censura militar”. Isto atira o país para a 112.ª posição do índice da liberdade de imprensa em 179 países (Portugal ocupa o 28.º lugar).
A lei da mordaça imposta em 2010 foi parcialmente revogada no dia seguinte à transmissão da primeira reportagem do canal australiano, que foi para o ar na terça-feira da semana passada. Após uma decisão do juiz Avraham Tal, os jornalistas israelitas estão agora autorizados a fazer referência ao caso, mas continuam impedidos de o investigar, segundo a ABC News.
O Governo da Austrália já anunciou que irá investigar a morte de Zygier e pressionou Israel a fazer o mesmo. O primeiro-ministro, Benjamin Netayahu, falou no domingo pela primeira vez sobre o caso, para defender o seu secretismo: “Nós não somos como os outros países. Somos mais ameaçados, mais desafiados, e por isso temos de garantir que as nossas forças de segurança ajam de forma adequada”.
Mas as revelações da última semana já levaram o Parlamento israelita a reagir, através da abertura de uma “inquérito intensivo sobre o caso do prisioneiro que foi encontrado morto na sua cela”.