O Presidente do Afeganistão deu 15 dias às forças especiais norte-americanas para saírem de Wardak e Logar, duas províncias estratégicas na luta contra os taliban.
Numa conferência de imprensa em Kabul, este domingo, o porta-voz presidencial, Aimal Faizi, acusou os EUA de recrutarem afegãos para unidades que aumentam a insegurança e a instabilidade na área, dando como exemplos a decapitação de um estudante e a captura de nove habitantes locais que estão desaparecidos.
"Na reunião de hoje do Conselho de Segurança Nacional, o Presidente do Afeganistão, Hamid Karzai, deu ordens ao Ministério da Defesa para expulsar as forças especiais dos EUA das províncias de Wardak e de Logar no prazo de duas semanas", anunciou o porta-voz do Presidente, citado pelas agências internacionais.
"As forças especiais dos EUA e grupos armados ilegais criados por elas estão a provocar insegurança e instabilidade e a maltratar os habitantes", afirmou o mesmo responsável.
As províncias de Wardak e Logar têm sido palco de um recrudescimento dos confrontos entre a Força Internacional de Assistência à Segurança no Afeganistão (ISAF) e os combatentes taliban –, a província de Wardak é considerada como de “alto risco” pelo Ministério da Defesa afegão desde 2009.
Mas os relatos de maus tratos, tortura e desaparecimentos, cuja responsabilidade o Governo afegão atribui às forças especiais dos EUA – a juntar a bombardeamentos norte-americanos que têm atingido civis –, levou Hamid Karzai a lançar o ultimato.
"Há indivíduos, alguns deles afegãos, a colaborar com estas células, com estes grupos das forças especiais dos EUA" na província de Wardak, adiantou o porta-voz do Presidente do Afeganistão. "Mas eles fazem parte das forças especiais dos EUA, segundo as nossas fontes e os nossos responsáveis na província", adiantou.
Não há ainda uma posição oficial dos EUA ou da ISAF sobre a decisão de Hamid Karzai, mas o site da televisão Al-Jazira cita uma fonte não identificada, que se diz "conhecedora dos comentários feitos pelo porta-voz na conferência de imprensa". Segundo a Al-Jazira, a ISAF garante que leva "todas as acusações de maus tratos a sério" e que irá discutir o assunto com os responsáveis afegãos.
Há uma semana, o Presidente Hamid Karzai proibiu as forças afegãs de pedirem apoio aéreo estrangeiro em zonas residenciais. A decisão foi tomada após a morte de dez civis num ataque na província de Kunar. Quando explicou os motivos que levaram a essa medida, Karzai declarou: "As nossas forças pedem apoio aéreo a estrangeiros e crianças são mortas num ataque."
Em Dezembro de 2012, estavam no Afeganistão 102 mil soldados de mais de 50 países, integrados na ISAF, a maioria dos quais norte-americanos (66 mil). Pouco mais de metade destes (34 mil) regressarão aos EUA no início de 2014. A cumprir-se o plano estabelecido, a esmagadora maioria das forças internacionais sairá do país até finais do próximo ano.