O cardeal-patriarca de Lisboa admitiu esta quinta-feira que o novo Papa vai enfrentar uma “estrutura pesadíssima” no Vaticano, mas espera que Francisco a possa “simplificar”. A escolha do argentino foi uma “surpresa”, considerou José Policarpo, que se mostrou confiante na “capacidade pessoal” do sucessor de Bento XVI.
José Policarpo e Jorge Mario Bergoglio prestaram o juramento de silêncio antes do início do conclave um a seguir ao outro. Estiveram sentados lado-a-lado durante o processo de eleição na Capela Sistina. O seu nome foi pronunciado e a seguir ouviram-se as palmas, recordou o cardeal português numa conferência de imprensa em Roma. “Foi tudo muito simples a seguir, ele é um homem muito caloroso, muito afável, não me pareceu nada atrapalhado, antes pelo contrário, quando ficou vestido de branco estava ainda mais à vontade”.
Bergoglio, de 76 anos, arcebispo de Buenos Aires, foi eleito como sucessor de Bento XVI ao quinto escrutínio do conclave, após pouco mais de 24 horas de votações à porta fechada. “Estas surpresas penso que têm o dedo de Deus, são o anúncio de um desafio para a Igreja de se purificar, de se simplificar”, disse José Policarpo.
Para o patriarca de Lisboa, a “grande promessa” do próximo pontificado é “uma simplificação da vida da Igreja e das suas estruturas, da maneira de estar no mundo, a partir dos valores evangélicos”.
Após afirmar que o Papa “nem sabe onde se veio meter”, José Policarpo mostrou-se confiante na “capacidade pessoal” do sucessor de Bento XVI para conviver com a “estrutura pesadíssima” onde está inserido. O patriarca de Lisboa disse que o Papa Francisco já mostrou ser capaz de “afirmar a diferença”, logo no momento de escolher as vestes e apresentar-se ao público – Bergoglio optou aparecer todo de branco.
Sobre o trabalho de reforço estrutural na Igreja Católica, o cardeal português disse que “é uma batalha difícil” para a qual o Papa “vai ter muitos apoiantes”.
“Está tudo preparado se ele quiser grandes mudanças”, declarou.
José Policarpo elogiou a “sensibilidade muito grande aos pobres” do Papa argentino, lembrando que ambos foram nomeados cardeais a 21 de Fevereiro de 2001. “O acaso da nossa vida eclesial fez com que nos encontrássemos muitas vezes”, disse, destacando a formação filosófica e teológica do agora Papa Francisco.
Após a eleição, José Policarpo aproveitou para deixar um convite a Francisco. “Logo após o cumprimento final, disse-lhe que nós gostaríamos muito de o receber em Portugal”. Não houve uma resposta ao convite “nem a podia dar”, reconheceu o cardeal.
José Policarpo disse que estão criadas “algumas condicionantes” para que a Igreja viva em “simplicidade”, sem depender da sua estrutura. “Que a Igreja crie essa simplicidade, na organização e estrutura, sem dar à organização e à estrutura o primado da qualidade da vida da Igreja”, apelou.
José Policarpo, que também participou no conclave de 2005, sustentou que se por acaso o cardeal Bergoglio “tivesse sido eleito Papa há oito anos não teria as condições que tem hoje”.
Para o patriarca de Lisboa, a escolha do nome do papa eleito, Francisco, é um indicador da procura da simplicidade para a Igreja Católica, na tradição da identificação da decisão de escolher um nome que represente o que o escolhido acha que deve ser a “maneira de exercer a sua missão”.