Se o planeta fosse uma ampulheta, podia-se dizer que tinha sido virado ao contrário por volta de 1980: o Sul é o novo pólo de desenvolvimento do planeta, diz o Relatório de Desenvolvimento Humano de 2012 do Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (PNUD). Em 2020, a produção combinada da China, Índia e Brasil, as três maiores economias do Sul, deverá mesmo ultrapassar a dos Estados Unidos, Alemanha, Reino Unido, França, Itália e Canadá.
Não é novidade que a categoria “países em desenvolvimento” já não é adequada aos dias de hoje. Entre 1980 e 2010, esses países em desenvolvimento quase duplicaram a sua quota das trocas comerciais internacionais: passaram de 25% para 47% do mercado.
E não foi apenas por venderem muito aos países ricos do Norte, ao chamado “Ocidente”, que estes países cresceram: foi o aumento das trocas comerciais entre os países que serviram de motor a esse crescimento, sublinha o relatório deste ano do PNUD: “O comércio entre os países do Sul foi o principal factor dessa expansão, que passou de menos de 10% para 25% de todo o comércio nos últimos 30 anos, enquanto as trocas comerciais entre países desenvolvidos caiu de 46% para menos de 30%”, lê-se no comunicado de imprensa sobre o relatório deste ano.
Na Ásia e na América Latina, em África, há cada vez mais telemóveis e ligados à Internet, substituindo-se aos telefones fixos, uma tecnologia que custa mais e é mais morosa a implantar. E esses telefones baratos são produzidos por alguns desses países do Sul, tecnologicamente mais avançados. “Brasil, China, Indonésia, Índia e México têm mais tráfego nos sites de Internet social do que qualquer outro país, excepto os Estados Unidos”, diz o relatório do PNUD.
Pelo menos 40 países fizeram grandes avanços de desenvolvimento que ultrapassaram as expectativas nas últimas décadas, mas 17 nações tiveram resultados excepcionais. Alguns são gigantes económicos, como a China, a Índia ou o Brasil, mas há alguns pequenos países que são também casos exemplares de sucesso, como o Gana, a Tailândia ou o Chile.
São países muito diversos, com histórias e sistemas políticos muito diferentes, mas o que têm em comum são coisas como uma atitude proactiva no desenvolvimento, tirando partido das oportunidades estratégicas do comércio internacional, e o forte investimento no capital humano, através de programas de educação e saúde e outros serviços sociais básicos, diz o relatório.
As classes médias destes países têm aumentado progressivamente. Em 2050, o Índice de Desenvolvimento Humano pode subir 52% na África subsariana e 36% no Sul da Ásia. “A Revolução Industrial foi uma história de talvez 100 milhões de pessoas, mas esta é uma história de milhares de milhões de pessoas”, declarou Khalid Malik, o principal autor do relatório de 2013.