Cristina Kirchner será a primeira chefe de Estado a ser recebida pelo Papa Francisco, um dia antes da missa que inaugurará oficialmente o seu pontificado. A audiência poderá servir para reparar as frias relações mantidas no passado entre os Kirchners e o até agora cardeal Bergoglio.
Segundo o jornal La Nación, a audiência foi pedida há alguns dias por Buenos Aires e, para garantir a sua realização, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Héctor Timerman, viajou até Roma, onde se encontrou com responsáveis do Vaticano.
Cristina Kirchner é recebida na residência de Santa Marta, onde o novo Papa está alojado antes de se mudar para o Palácio Apostólico e, segundo a presidência, os dois vão almoçar juntos – uma informação que o Vaticano não confirmou. No dia seguinte, a Presidente assistirá num lugar de destaque, junto ao chefe de Estado italiano, Giorgio Napolitano, à missa inaugural na Praça de São Pedro.
“Agora não resta alternativa à Presidente que não a de ser diplomática, já que noutras ocasiões não o foi tanto”, disse à AFP o bispo argentino Joaquín Piña, enquanto o La Nación notava uma inversão na postura de Kirchner, que, no dia da eleição, enviou a Roma uma breve nota de felicitação, contrastando com o entusiasmo de outros dirigentes da região com a escolha do primeiro Papa latino-americano.
As difíceis relações remontam a 2004, quando na homilia do tradicional Te Deum realizado no feriado nacional o então Presidente Nestor Kirchner teve de ouvir o cardeal denunciar “o exibicionismo e os anúncios estridentes” de certos responsáveis. O Presidente, que classificou o arcebispo de Buenos Aires como o “verdadeiro representante da oposição”, decidiu levar nos anos seguintes as celebrações para outras cidades do país, numa estratégia seguida pela sua mulher.
As relações com Cristina Kirchner, apesar de mais cordiais, foram sempre tensas, sobretudo quando o Governo avançou com a legalização do casamento gay, perante a forte contestação da Igreja. O La Nación recorda que, em 2010, a Presidente recusou o sacerdote que o arcebispo enviou ao hospital onde Nestor Kirchner acabaria por morrer.
O jornal refere que fora do encontro deverão ficar as questões de política interna argentina, centrando-se a audiência nas questões da agenda internacional. “Não tenho dúvidas de que têm de melhorar a sua relação, creio que vão falar como duas pessoas inteligentes e, tendo em conta a grandeza do ser humano, esta é uma grande oportunidade”, disse à AFP Omar Suárez, dirigente do poderoso Sindicato dos Trabalhadores Marítimos, que integrará a numerosa comitiva argentina em Roma.