Os receios de que a onda de violência do ano passado entre budistas e muçulmanos chegue ao coração da Birmânia levou a Presidência a instituir esta sexta-feira a lei marcial em quatro municípios do Centro do país.
O Presidente Thein Sein declarou o estado de emergência e impôs a lei marcial, transferindo a responsabilidade pela segurança da polícia para os militares.
O recolher obrigatório durante a noite foi instituído na quarta-feira, mas desde esse dia já foram mortas 20 pessoas, entre as quais um monge budista, disse à agência Reuters Win Htein, deputado da Liga Nacional para a Democracia, na oposição.
O fim da ditadura militar, em Março de 2011, provocou uma onda de violência étnica, que é agora um dos maiores desafios do Governo reformista birmanês. A transição democrática na Birmânia nos últimos anos já permitiu a libertação de vários dissidentes – entre as quais, a Nobel da Paz Aung San Suu Kyi, em 2010 –, o fim da censura e a realização de eleições livres, mas o actual Governo enfrenta críticas por causa da violência entre budistas e muçulmanos.
"Sinto-me muito triste com o que aconteceu aqui, porque isto não está a acontecer a apenas uma pessoa. Está a afectar-nos a todos”, disse à agência Reuters Maung Maung, um budista de Meikhtila, uma das cidades mais afectadas pela violência dos últimos dias.
Milhares de muçulmanos refugiaram-se em abrigos instalados num estádio de futebol, segundo o relato da Reuters.
No ano passado, uma onda de violência no estado de Rakhine, na parte ocidental do país, provocou a morte de 110 pessoas e deixou 120.000 sem casa, a maioria das quais muçulmanos.
Uma das principais queixas dos residentes em Meikhtila é a falta de policiamento para controlar a situação, que se inflamou após uma discussão entre um casal budista e os proprietários muçulmanos de uma loja de venda de ouro. Este episódio desencadeou uma onda de distúrbios, com o envolvimento de centenas de pessoas.
O repórter da Reuters no local diz ter visto várias pessoas a armarem-se com facas, numa repetição do que aconteceu em Rakhine, no ano passado.
A Birmânia é um país predominantemente budista, mas cerca de 5% dos seus 60 milhões de habitantes são muçulmanos. As comunidades mais significativas estão localizadas nas duas maiores cidades do país, Yangon e Mandalay.
"Toda a gente está em estado de choque. Não esperávamos que isto acontecesse", lamentou um professor muçulmano de Mandalay, que pediu para não ser identificado.
Monges budistas conhecidos pelas suas posições anti-islâmicas têm organizado várias manifestações em Mandalay. Em Meikhtila, uma mesquita, uma escola muçulmana, vários estabelecimentos comerciais e edifícios governamentais foram queimados.