O Irão, a Coreia do Norte e a Síria bloquearam, após dez dias de negociações, uma nova tentativa de consenso sobre o que seria o primeiro tratado de comércio internacional de armas convencionais.
“Não há consenso para a aprovação”, disse o diplomata australiano Peter Woolcott, presidente de uma conferência criada pela Assembleia Geral das Nações Unidas em Dezembro de 2012 para tentar obter um acordo. Os três países manifestaram formalmente, por duas vezes, a sua oposição ao texto.
O tratado está em discussão há sete anos. A última vez que as negociações foram interrompidas foi em Julho de 2012. As armas abrangidas vão desde pistolas a mísseis, passando por aviões e navios de guerra.
O objectivo, proposto pelo Quénia, era aprovar um texto a enviar à Assembleia Geral “para adopção logo que possível”. Mas apesar do apoio de numerosos países, incluindo os Estados Unidos, os europeus e a maior parte dos africanos e latino-americanos, não houve consenso.
Uma possibilidade agora é que o texto venha a ser aprovado por uma maioria de dois terços – 130 dos 193 países membros. O Reino Unido, o México, a Austrália e outros países pretendem que seja votado com urgência pela Assembleia Geral, noticiou a Reuters.
O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, manifestou-se “profundamente decepcionado pelo fracasso”. Considerou "equilibrado" o texto da proposta de tratado e desejou que os países membros “continuem os seus esforços” para que entre em vigor “logo que possível”.
O representante da França, Jean-Hugues Simon-Michel, notou que o bloqueio partiu de “países sob sanções” que procuram escapar às suas “obrigações internacionais”. A negociadora britânica, Jo Adamson, disse que “ maior parte dos países querem um regulamentação” , e que "não há fracasso mas êxito adiado”.
Mas não foram só representantes de Estados a lamentarem a falta de acordo. “O mundo está refém de três países”, reagiu Anna Macdonald, da organização não-governamental Oxfam. “O tratado será uma realidade, é uma questão de tempo”, afirmou, citada pela AFP.
Brian Wood, da Amnistia Internacional, considera “profundamente cínica” a atitude dos três países e apelou “à adopção do tratado logo que possível”, pela Assembleia Géral.
O Presidente do Irão, Mahmoud Ahmadinejad, disse à Press TV iraniana que o país apoia o tratado, mas o embaixador nas Nações Unidas, Mohammed Khazaee, afirmou que na versão em que foi discutido nos últimos dias “abria a porta à politização, à manipulação e à discriminação” e ignorava “o direito dos Estados a comprarem armas convencionais para se defenderam contra agressões”.
O representante norte-coreano, Ri Tong-Il, disse que o texto “não era equilibrado” e podia ser “manipulado politicamente pelos principais exportadores de armas”. O sírio, Bachar Jaafari, lamentou que não abrangesse “o comércio ilegal de armas que apoia o terrorismo”. “Infelizmente as nossas preocupações não foram tidas em conta”, disse.
O texto previa que, antes de uma transacção, os vendedores avaliassem o risco de as armas serem usadas para contornar um embargo internacional, cometer genocício e outras violações dos direitos humanos ou caírem em mãos de terroristas ou criminosos.
O mercado de armas convencionais está avaliado em perto de 80 mil milhões de dólares por ano (cerca de 62,4 mil milhões de euros).