Cinco explosões, sequestro de guardas, viaturas roubadas e fuga de uma prisão. Tudo parece fazer parte do argumento de um filme de acção mas aconteceu na realidade, no último sábado, na prisão francesa de Sequedin, a cerca de 15 quilómetros da fronteira belga, no Norte do país. Foi com este aparato que Redoine Faïd conseguiu fugir do estabelecimento prisional, onde cumpria uma pena por tentativa de assalto à mão armada. Após a fuga, foi emitido um mandado de captura europeu.
Segundo dados avançados pelas autoridades e citados pelos média franceses, pelas 8h30 de sábado, Redoine Faïd, de 40 anos, aproveitou a habitual inspecção às celas para pôr em prática um minucioso plano de fuga, um autêntico “acto de guerra” como classificou depois o sindicato dos guardas prisionais.
Durante cerca de meia-hora conseguiu o impensável. Saiu da cela, já armado, e disparou um tiro para o ar. Com a arma intimidou quatro guardas, que manteve sob sequestro. Após o disparo, foi dado o alerta para uma tentativa de fuga de um detido. Antes que fosse interceptado, fez explodir cinco portas, umas atrás de outras, para chegar ao exterior. Acabou por deixar três dos guardas para trás mas manteve consigo um quarto, que obrigou a entrar num carro que o aguardava conduzido por um cúmplice numa estrada próxima da prisão. Pouco depois, a viatura era encontrada na A25, na zona de Ronchin, incendiada. Perto do carro estava o guarda que foi sequestrado. Faïd entrou depois numa segunda viatura de cor branca. O paradeiro de Faïd, agora o homem mais procurado em França, é desconhecido desde então.
Uma “caça ao homem” foi de imediato lançada, com o apoio de um helicóptero e de cerca de uma centena de polícias. A operação foi entretanto alargada às autoridades belgas, que com o apoio dos colegas franceses vigiam estradas, estações de comboios e aeroportos para tentar encontrar Faïd. Esta segunda-feira, a ministra francesa da Justiça, Christiane Taubira, confirmou que foram emitidos um mandado de captura europeu e um pedido de detenção pela Interpol contra o homem de 40 anos, que pela segunda vez se encontrada no topo da lista de prioridades da polícia francesa, como recorda o Le Figaro.
Durante cerca de um ano, Faïd, um francês de origem argelina, foi procurado por ter liderado um assalto à mão armada, durante o qual um polícia municipal de 26 anos foi morto. Foi por este crime que estava a cumprir uma pena em Sequedin desde 2011.
Homem "inteligente e perigoso"
Redoine Faïd ficou conhecido em França pelos assaltos que cometeu no passado. Em 1998, após três anos em fuga, parte deles na Suíça, como depois se confirmou, acabou por ser detido. Foi condenado a 20 anos de prisão, tendo passado mais de uma década em prisões de alta segurança em França. Após ter sido libertado antes de cumprir a totalidade da pena, escreveu, em 2009, o livro Braqueur, (Assaltante), onde descreve como cresceu no mundo do crime organizado. É com este livro que mostra a sua obsessão com os filmes de acção, descrevendo crimes que terá cometido como autênticas cenas de filmes de acção como Cães Danados (1992), de Quentin Tarantino, ou Cidade sob Pressão (1995), de Michael Mann.
Desde então é conhecida a sua personalidade forte e destemida, que gostou de promover em entrevistas que foi dando antes de ser novamente detido em 2011. Conhecido como “Doc”, é tido entre as autoridades como um homem “inteligente e perigoso” e “perito na arte do disfarce”.
Até esta segunda-feira, não havia qualquer pista sobre o paradeiro de Redoine Faïd e todos os testemunhos estão a ser revistos pela polícia. O irmão de Faïd é mantido sob apertada vigilância, para que seja interceptado qualquer tipo de contacto que o fugitivo possa tentar com o seu familiar.
Apesar de ser considerado um homem perigoso, Faïd era considerado um detido comum em Sequedin, sem que estivesse sob medidas duplementares de vigilância, como admitiu à AFP Etienne Dobremetz, representante regional do sindicato dos guardas prisionais Ufap/Unsa Justice.
O problema da sobrelotação da prisão de Sequedin poderá ter movitado a fuga. À CNN, um porta-voz do Ministério da Justiça francês admitiu que a cadeia ultrapassou a sua capacidade para receber detidos, o que coloca em perigo a actividade dos guardas prisionais, sobre quem recai agora grande parte da atenção. Como foi possível Faïd ter tido acesso a armas e explosivos e manter sob sequestro quatro guardas? Ninguém avança com respostas. Enquanto decorrem as investigações.