Com pompa e circunstância, realizou-se na manhã desta quarta-feira o funeral público de Margaret Thatcher. Na catedral de São Paulo estiveram 2300 pessoas, entre elas a rainha Isabel II e todos os primeiro-ministros que sucederam à Dama de Ferro. Na rua, milhares de pessoas (mais do que as esperadas) emocionaram-se e outras voltaram as costas ao caixão.
Thatcher é considerada uma governante crucial no Reino Unido do pós-guerra. Travou o declínio do país mas o preço foi alto - se por um lado a classe média se solidificou, por outro o número de pobres duplicou nos mandatos que cumpriu, e foi a pessoa que mais tempo esteve em Downing Street, 11 anos.
Por isso, a decisão de a homenagear com um funeral com honras militares foi polémica. O funeral de Estado está reservado ao chefe de Estado, no caso o monarca; e só um primeiro-ministro, Winston Churchill, mereceu essas honras por ter enfrentado a II Guerra Mundial.
Perto de quatro mil polícias patrulharam as ruas de Londres ao longo do percurso do cortejo fúnebre. Os quatro ramos das Forças Armadas também foram envolvidos e a cerimónia terá custado dez milhões de libras. "Não quero pagar o funeral do meu bolso", lia-se em alguns cartazes de britânicos que quiseram estar presentes para protestar contra o legado de Thatcher.
Os manifestantes anti-Thatcher, e ao contrário de outros dias desde a sua morte, a 8 de Abril, mantiveram-se quase em silêncio. Mas houve quem cantasse o tema The Witch is dead, do filme O Feiticeiro de Oz, à passagem do caixão sobre um carro do canhão. Outros optaram por voltar as costas nesse momento. Uma pessoa foi detida junto à catedral de São Paulo por pretender gritar contra a baronessa Thatcher de megafone.
Dentro do templo, cantaram-se hinos e leram-se textos religiosos - Thatcher deixou expresso que o primeiro-ministro do momento deveria fazer parte da sua cerimónia fúnebre e David Cameron, que é conservador como a sua antecessora, leu um.
A intervenção mais emotiva foi feita pelo bispo de Londres, Richard Chartes, que era amigo de Margaret Thatcher. Contou histórias, recordou momentos pessoais - como o dia em que ela lhe disse para parar de comer paté de pato; "isso engorda" - e deixou alguns comentários políticos no ar.
O bispo foi o único que arriscou uma mensagem política, ainda que velada. Explicou que Thatcher foi mal interpretada quando disse "isso a que chamam sociedade não existe, existem homens, mulheres e os seus filhos". E abordou a divisão que a sua figura (e as suas políticas) deixaram no país: "Este é o funeral de Margaret Hilda Thatcher" e não é o momento para "falar do seu legado".