Investigadores do FBI foram enviados à república russa do Daguestão para interrogar os pais de Tamerlan e Djokhar Tsarnaev, numa tentativa para reconstituir o percurso dos dois irmãos e perceber o que os levou a atacar com bombas a maratona de Boston. Na mira da equipa estão os seis meses que Tamerlan passou, no ano passado, no Cáucaso, ainda que tanto os pais como as autoridades locais assegurem que ele não entrou em contacto com os movimentos jihadistas que ganham força na região.
As diligências americanas são conhecidas depois de dois jornais norte-americanos terem noticiado que Djokhar – hospitalizado com ferimentos graves sofridos durante a perseguição policial, na sexta-feira – contou aos procuradores federais que ele e o irmão, morto durante a perseguição policial, agiram em retaliação pelas guerras americanas no Iraque e Afeganistão. Os investigadores acreditam, porém, que os dois suspeitos agiram por iniciativa própria, sem ligação a qualquer grupo estrangeiro.
Ainda assim, todas as hipóteses continuam em aberto e agentes do FBI viajaram até ao Daguestão, com o aval do Presidente russo. Sexta-feira, dia em que se soube que os dois irmãos são de origem tchetchena, Vladimir Putin falou ao telefone com o homólogo norte-americano, Barack Obama, numa conversa que terminou com a promessa mútua de reforço da cooperação antiterrorismo.
“Investigadores do FBI interrogaram durante toda a noite os pais dos irmãos Tsarnaev na sede do FSB [Serviço de Segurança Federal, ex-KGB] no Daguestão”, contou à agência francesa um oficial da polícia local, acrescentando que o casal regressou de madrugada a casa, mas “quarta-feira de manhã, a mãe, Zubeidat Tsarnaeva, foi conduzida de novo ao FSB para a continuação do seu interrogatório”. A embaixada americana em Moscovo confirmou o envio de uma delegação a Makhachkala, mas não adiantou pormenores do inquérito.
O oficial da polícia revelou, no entanto, que os investigadores questionaram o casal “sobre as pessoas que Tamerlan contactou durante a sua estadia no Dagestão”, em 2012, e que ambos repetiram o que têm dito em público, assegurando que o filho mais velho “nunca entrou em contacto com representantes do islão radical”.
A mesma convicção foi manifestada pelo ministro do Interior daquela república autónoma. “Tentar provar que Tamerlan foi contaminado pelas ideias do islão radical é uma manobra destinada a omitir as faltas dos outros”, disse Abdurachid Magomedov à AFP.
Em 2011, o FBI investigou o mais velho dos irmãos Tsarnaev a pedido das autoridades russas, que diziam ter indicações de que ele aderira a uma visão radical do islão e se estaria a preparar para viajar até à região para entrar em contacto com grupos radicais.
Na altura, a polícia federal norte-americana não encontrou razões que confirmassem as suspeitas, mas o seu nome foi, ainda assim, incluído numa vasta lista do Centro Nacional de Contraterrorismo, noticiou a Reuters nesta terça-feira. A lista, conhecida pela sigla TIDE (Terrorist Identities Datamart Environment) inclui cerca de 450 mil nomes de "conhecidos, suspeitos ou potenciais" envolvidos em acções terroristas, mas nem todos são alvo de vigilância. Segundo a mesma fonte, o nome de Tamerlan não foi incluído nem no registo de pessoas proibidas de viajar de avião, nem no que lista os indivíduos que terão de ser sujeitos a um controlo mais rigoroso nos aeroportos.