O falso padre de Barcelos acusado de furto de obras de arte e bens culturais religiosos, burla, falsificação de documentos e usurpação de funções, foi detido, anunciou nesta quinta-feira a Polícia Judiciária. Após um primeiro interrogatório, o Tribunal de Instrução Criminal de Lisboa aplicou-lhe a medida de coação mais grave, a de prisão preventiva.
O homem, de 40 anos, que conta já com outras detenções por se fazer passar por sacerdote e pela prática de burlas, teria regressado recentemente a estes crimes, tendo mesmo motivado a emissão de um alerta pela Arquidiocese de Braga.
Na última sexta-feira, o vigário-geral da Arquidiocese de Braga alertou num comunicado que o falso padre Agostinho Coutinho Caridade tinha regressado às igrejas do distrito e furtado “objectos valiosos”. Numa das igrejas, a de Senhora-a-Branca, em Braga, apresentou-se como Vítor, mas a arquidiocese admitiu que poderia “apresentar outro nome qualquer”. Aos paroquianos, era recordado que o homem em causa já tinha sido acusado e condenado por “burlar dezenas de pessoas, através da realização indevida de várias cerimónias religiosas nas Dioceses do Porto e de Braga”. Entre essas cerimónias estiveram casamentos e baptizados.
Agostinho Caridade tem um longo percurso de crimes de usurpação de funções e de burla. Chegou a ser condenado em pelo menos duas situações, em Janeiro de 2010, a três anos e seis meses de prisão por burla qualificada continuada, depois de ter burlado um casal de idosos de Santão, Felgueiras, e em Outubro de 2011, a dois anos e seis meses de prisão, com pena suspensa, no Tribunal Judicial de Santo Tirso, também por ter burlado uma idosa.
Desde 1999 que são conhecidas actividades criminosas ao homem, natural de Aguiar, Barcelos, que deixou um rasto de mentiras, falsas promessas e furtos em igrejas de Lisboa, Braga, Valença, Viana do Castelo e Aveiro. Foi agora detido em Lisboa, confirmou ao PÚBLICO João Oliveira, coordenador de investigação criminal da Polícia Judiciária.
Não é, para já, possível determinar o valor total dos bens culturais e religiosos furtados por Agostinho Caridade, nem as quantias angariadas através de falsos peditórios e falsificação de assinaturas em cheques. No caso dos objectos furtados em igrejas, “estamos a falar de bens culturais cujo valor pecuniário nunca foi calculado”, explicou João Oliveira. O investigador admite ainda que algumas paróquias só tomaram conhecimento de furtos depois de terem sido contactadas pelas autoridades durante as investigações e que outras, agora com a detenção, verifiquem se perderam alguma peça.
Nessas investigações, que decorrem “há alguns meses”, a Judiciária confirmou que o homem assumiu “várias falsas qualidades e identidades, entre as quais a de padre católico, introduziu-se em diversas igrejas” e furtou “dezenas de bens e objectos afectos ao culto religioso, os quais, posteriormente, transacionou, em maioria no mercado ilícito”.
Através de relações de proximidade com as futuras vítimas, entre padres e paroquianos, Agostinho Caridade criou condições para realizar falsos peditórios, um deles tinha como objectivo levar um filho deficiente a um tratamento em Cuba, o que lhe terá rendido alguns milhares de euros. Outro dos crimes de que é suspeito é a falsificação de cheques para adquirir bens que depois revendeu.
“Trata-se de uma pessoa com uma vida errante, sem morada conhecida, que anda à deriva, o que dificultou a sua localização”, conta João Oliveira.