A Coreia do Norte reacendeu a polémica com os Estados Unidos ao condenar um cidadão norte-americano a 15 anos de prisão com trabalhos pesados. Em Washington, o Departamento de Estado pediu esta quinta-feira uma amnistia imediata para Pae Jun-ho, conhecido nos EUA por Kenneth Bae, e condenado a 15 anos de trabalhos forçados por conspiração contra o regime de Pyongyang.
Pae Jun-ho, de 44 anos, também tem nacionalidade coreana, e foi condenado por ter cometido actos contra o Governo daquele país, com o objectivo de derrotar o regime comunista liderado por Kim Jong-un. Bae é um operador turístico.
"Pedimos à Coreia do Norte para dar uma amnistia ao sr. Bae. Pensamos que poderá ter havido falta de transparência neste caso", disse o porta-voz do Departamento de Estado, Patrick Ventrell.
A informação sobre a condenação foi inicialmente avançada pela agência noticiosa da Coreia do Norte, a KCNA, que diz que a decisão foi tomada a 30 de Abril. A BBC destaca que esta decisão está a ser mal recebida nos Estados Unidos.
O The New York Times explica que Kenneth Bae foi detido em Novembro de 2012, na cidade de Rason, no Nordeste da Coreia do Norte, juntamente com outros cinco turistas vindos da China. Foram considerados suspeitos de praticarem ou planearem actos contra Pyongyang. A BBC, citando amigos do condenado, diz que este era um cristão devoto. Diz ainda, citando órgãos de comunicação norte-coreanos, que Kenneth Bae teria confessado "crimes contra a Coreia do Norte, incluindo a tentativa de derrube do Governo".
A condenação surge na mesma semana em que o porta-voz do Departamento de Estado dos Estados Unidos, Patrick Ventrell, tinha apelado à “libertação imediata” do suspeito, invocando “razões humanitárias”. Também em Janeiro o embaixador norte-americano nas Nações Unidas, Bill Richardson, enviou uma carta ao Governo de Kim Jong-un, mas as autoridades daquele país não permitiram uma reunião.
Este não é o primeiro caso em que um cidadão de dupla nacionalidade tem problemas com as autoridades norte-coreanas. Em 2009, o missionário Robert Park foi detido e torturado por protestar contra as violações dos direitos humanos em Pyongyang. Nesse mesmo ano o antigo Presidente Bill Clinton também viajou para o país para negociar a libertação de dois jornalistas dos Estados Unidos que tinham entrado ilegalmente na Coreia do Norte e que após a detenção tinham sido condenados a 12 anos de trabalhos forçados – uma pena que coincidiu com o segundo teste nuclear.
Pressão para negociações?
Este novo caso também está a ser visto pelos observadores, sublinha o Guardian, como uma forma de a Coreia conseguir atingir alguns objectivos. Isto porque desde Abril que o país tem vindo a impor condições para retomar o diálogo com Seul e Washington, exigindo ainda a retirada das sanções da ONU.
Em Fevereiro, o Conselho de Segurança da ONU foi unânime, com os 15 países a insistirem na adopção rápida de medidas, que ainda assim não foram divulgadas. Até a China foi, mais uma vez, dura na reacção ao ensaio nuclear e expressou a sua "firme oposição".
Apesar de ser visto como o único aliado da Coreia do Norte, o Governo de Pequim nunca deixou de condenar as pretensões nucleares de Pyongyang. Em 2006, classificou o primeiro teste nuclear norte-coreano como um "descaramento" e criticou a Coreia do Norte por "ignorar a oposição da comunidade internacional".