Um dos dois reactores da central nuclear de Tsuruga, na costa ocidental do Japão, está sobre uma falha geológica activa e por isso deve ser encerrado definitivamente, recomendou uma comissão de sismólogos. E um reactor onde se fazem experiências de reciclagem de combustível nuclear é tão inseguro que nunca mais deve abrir portas, dizem os peritos. Começam a abrir-se as portas dos primeiros encerramentos definitivos de centrais nucleares no Japão desde a crise em Fukushima, em 2011.
Neste momento, apenas dois dos 50 reactores nucleares japoneses estão a funcionar. A indústria nuclear civil está a ser alvo de uma revisão de segurança, depois de o acidente da central de Fukushima ter revelado que havia uma grande falta de vigilância no sector. O encerramento das centrais nucleares, no entanto, pesou de forma inédita na economia japonesa – fez com que o seu habitual superavit passasse a défice, por ter de importar combustíveis fósseis. O actual Governo de Shinzo Abe gostaria de ver as centrais nucleares voltar a funcionar o mais rapidamente possível, e os industriais também.
Mas o Japão é um dos países com maior actividade sísmica do mundo. Os primeiros resultados da avaliação de segurança começam a ser divulgados. Nesta quarta-feira, a comissão de sismólogos revelou o seu parecer de que a falha geológica conhecida como D-1, que fica sob a central de Tsuruga, a mais antiga do Japão, está activa.
“Os níveis de segurança [em Tsuruga] têm sido baixos. Só por sorte é que não houve um acidente”, disse Kunihiko Shimazaki, o presidente da comissão e comissário da nova Autoridade de Regulação da Energia Atómica japonesa – criada após o acidente de Fukushima em resposta às críticas ao antigo regulador, considerado demasiado próximo da indústria nuclear –, a entidade que deverá aconselhar o Governo a mandar encerrar as centrais que não tiverem condições.
A empresa que explora a central, a Japan Atomic Power, reagiu mal e acusou os cientistas de serem preconceituosos. “Lamentamos profundamente que tivessem chegado a essa conclusão, que nos é impossível de aceitar. Pedimos à comissão de peritos que cheguem a uma conclusão diferente depois de reverem os dados existentes com um ponto de vista neutro e uma discussão com base estritamente científica.”
Há outras cinco centrais nucleares que podem estar assentes sobre falhas geológicas activas.
Outro grupo de geólogos aconselhou também nesta quarta-feira à nova Autoridade de Regulação da Energia Atómica japonesa a não permitir que seja reactivado o reactor experimental de Monju.
Aquele reactor, em utilização há quase 50 anos, segundo a Associated Press, usa plutónio e não urânio como combustível. O objectivo é tentar obter um ciclo de combustível nuclear auto-sustentável. A ideia é reciclar o urânio e o plutónio do combustível já utilizado nos reactores das centrais e juntá-lo num produto híbrido (MOX).
Além de poupar dinheiro, evitar-se-ia enviar o combustível nuclear para o estrangeiro, para centrais onde é reciclado ou guardado – em viagens em que pode haver sempre o risco de ser desviado e haver proliferação nuclear, e em que é costume haver protestos de ambientalistas. A central de Rokkasho, no Norte do Japão, foi construída com esse fim e têm lá sido feitos ensaios, tal como em Monju.
Mas os ensaios não têm corrido muito bem, e houve acidentes graves em Monju, como em 1995, e problemas técnicos em Rokkasho. Há também suspeitas de que o reactor de Monju esteja situado sobre falhas geológicas activas e que exista o perigo de terramotos, tal como em Tsuruga – que, aliás, não fica longe.
Os cinco peritos da comissão de sismólogos que emitiu agora a sua opinião consideram que a operadora da central de Monju, a Agência de Energia Atómica do Japão, “não tem capacidade para garantir de forma suficiente a segurança”. “Apesar das lições que aprendemos após o acidente de Fukushima, parece que a cultura da segurança ainda é insuficiente no Japão”, comentou Shunichi Tanaka, secretário da Autoridade de Regulação da Energia Atómica japonesa, citado pela Associated Press.
“Repetiram os mesmos erros, apesar de dizerem que estavam a analisar a raiz dos problemas. Penso que não têm uma compreensão fundamental do que é a segurança”, disse ainda Shunichi Tanaka, secretário da Autoridade de Regulação da Energia Atómica japonesa.