A malnutrição é responsável pela morte de 3,1 milhões de crianças por ano, revela um estudo hoje publicado na revista 'The Lancet', segundo o qual os problemas nutricionais estão por detrás de 45% de toda a mortalidade infantil.
Liderado por Robert Black, da Escola de Saúde Pública Johns Hopkins Bloomberg, em Baltimore, EUA, o estudo resulta de uma análise exaustiva das diferentes causas e consequências da malnutrição, incluindo a baixa estatura para a idade, o baixo peso para a altura e o baixo peso para a idade, os quais resultam num maior risco de morte e doença para as grávidas e as crianças.
Embora a prevalência de baixa estatura esteja a diminuir há 20 anos, as taxas não estão a cair a um ritmo que permita cumprir as metas estabelecidas no ano passado na Assembleia Mundial de Saúde, que previam uma quebra de 40% no número de crianças com baixa estatura até 2025.
Os autores estimam que pelo menos 165 milhões de crianças em todo o mundo sofressem de raquitismo (baixa estatura para a idade) em 2011.
No mesmo ano, pelo menos 50 milhões de crianças sofriam de desnutrição (baixo peso para a altura) e 100 milhões tinham baixo peso para a idade.
Mais de 90% destas crianças estavam na Ásia ou em África, sendo esta última a única região do mundo onde o número de crianças com raquitismo aumentou na última década.
Numa série especial dedicada à nutrição materna e infantil hoje publicada na 'The Lancet', os autores recordam que a subnutrição não afecta apenas as hipóteses de sobrevivência e as medidas das crianças, mas também tem efeitos negativos no seu desenvolvimento, com consequências no desempenho escolar e na susceptibilidade a doenças infecciosas, entre outras.
Num outro artigo incluído nesta edição especial, os autores apresentam 10 intervenções que, juntas, poderiam salvar 900.000 vidas de crianças por ano, com um custo estimado de 9,6 mil milhões de dólares.
Os autores sublinham que mais de metade deste custo seria suportado pela Índia e pela Indonésia, que têm recursos suficientes para suportar a luta contra a malnutrição, pelo que, retirados os contributos dos restantes países afectados, restaria aos doadores externos contribuir com três a quatro mil milhões de dólares, menos do que o que a Coca-Cola e a McDonald's juntas gastam num ano em publicidade.
O resultado, estimam os autores, seria salvar quase um milhão de vidas, mas também uma redução de 20% na prevalência de crianças com raquitismo em crianças com menos de cinco anos e melhorias nas perspectivas de 33 milhões de crianças em todo o mundo.
Entre as dez intervenções apontadas pelos investigadores estão o fornecimento de ácido fólico, cálcio e suplementos nutricionais a mulheres grávidas; a promoção da amamentação e de alimentos complementares às crianças quando necessário; o fornecimento de suplementos de vitamina A e zinco a crianças até cinco anos, bem como a utilização de estratégias comprovadas para tratar a malnutrição moderada a severa nas crianças.
"As nossas estimativas conservadoras mostram que com um investimento num pequeno número de intervenções comprovadas, podemos salvar a vida de 900.000 crianças e melhorar as perspectivas de vida de milhões de outras. Os benefícios potenciais para os países afectados em termos de aumento da produtividade e redução dos gastos com saúde são substanciais e o investimento necessário estaria inteiramente dentro das capacidades dos países e doadores que querem salvar crianças e melhorar o seu futuro", escreveu Zulfiqar Bhutta, o autor principal do estudo.