O grupo britânico Lonmin, que explora a mina de platina de Marikana, na África do Sul, manifestou hoje "pesar" pela morte de 34 mineiros, assassinados pela polícia sul-africana há precisamente um ano.
A mensagem foi dirigida aos familiares e amigos dos 34 mineiros pelo administrador executivo grupo britânico Lonmin, Ben Magara, no âmbito das comemorações para assinalar aquele que foi considerado o pior massacre após o fim do apartheid, em 1994.
"Todos os dias sentimos as consequências da tragédia", afirmou o responsável perante uma multidão de milhares de pessoas que se concentrou no local, onde a polícia sul-africana disparou sobre milhares de mineiros que estavam em greve pela melhoria dos salários, e que se encontravam entrincheirados numa colina.
A intervenção em Marikana, situada a cerca de cem quilómetros de Joanesburgo, deixou ainda mais de setenta feridos.
"Morreram por um salário digno", foi um dos lemas escolhidos para lembrar as vítimas e denunciar o ataque, que chocou a África do Sul e o mundo.
Passado um ano, ninguém foi responsabilizado. É por isso que as comemorações também decorreram sob apertadas medidas de segurança, relata a agência noticiosa francesa AFP.
O grande ausente foi o partido Congresso Nacional Africano (ANC), do presidente sul-africano, Jacob Zuma, que boicotou o evento, após os organizadores terem convidado vários líderes da oposição sul-africana e uma estrutura sindical militante a intervirem na iniciativa.
O facto de vários membros do ANC estarem representados nos conselhos de empresas de mineração e o governo sul-africano ter defendido os procedimentos da polícia são outras das possíveis razões apontadas pela AFP.
Apesar de o presidente da África do Sul, Jacob Zuma, ter ordenado a abertura de um inquérito governamental para investigar as mortes, publicamente tem evitado abordar o assunto para não ser envolvido na polémica.
"Queremos saber a verdade - quem enviou a polícia para nos vir matar?", frisou Mzoxolo Magidwana, um jovem de 24 anos, baleado oito vezes, citado pela AFP.
Na sequência do ataque, os ânimos exaltados e as divergências entre as duas estruturas sindicais rivais provocaram pelo menos mais dez mortos – incluindo dois polícias - mortos em Marikana durante uma nova greve.
Na véspera das comemorações, o comissário de polícia nacional sul-africana, Riah Phiyega, pedira calma aos participantes.
"Essas pessoas morreram por nada", criticou Gabriel Shakhane, mineiro oriundo do Lesoto, dando voz à raiva que muitos continuam a sentir um ano depois do sangrento incidente em Marikana, onde os baixos salários e condições precárias continuam a ser uma realidade.
Acresce que o inquérito às mortes dos 34 mineiros tem sido marcado por atrasos e discussões sobre a falta de financiamento estatal para o pagamento das taxas legais das vítimas.
"Ainda não dispomos dos factos do que aconteceu em Marikana, a comissão de inquérito não tem feito o seu trabalho – nem estamos perto de saber quem é legalmente responsável pelas mortes", afirmou Eusébio McKaiser, um conhecido analista político sul-africano, citado pela AFP.
Noel Kututwa, da Amnistia Internacional, apontou para a necessidade de esclarecer quanto antes o caso. "As consequências, a longo prazo, no que toca ao respeito e à proteção dos direitos humanos na África do Sul serão graves, caso as autoridades sul-africanas falharem", afirmou.