O chefe da diplomacia brasileira, António Patriota, demitiu-se na segunda-feira após uma crise diplomática com a Bolívia, informa um comunicado da presidência do Brasil.
Segundo o comunicado, a Presidente brasileira, Dilma Rousseff, aceitou o pedido de demissão de Patriota e nomeou para ministro das Relações Exteriores o actual representante do Brasil nas Nações Unidas, embaixador Luiz Alberto Figueiredo.
A demissão acontece após um incidente diplomático com a Bolívia, provocado pela fuga do senador da oposição boliviana, Roger Pinto, para o Brasil, com apoio de diplomatas brasileiros.
Segundo fontes oficiais citadas pela agência Efe, Patriota analisou, durante uma reunião de cerca de 50 minutos com Dilma Rouseff, as implicações da fuga do senador boliviano nas relações com o Governo de La Paz.
Roger Pinto, um conhecido opositor boliviano e que se dizia vítima de perseguição, chegou ao Brasil no passado fim de semana, após se ter refugiado na embaixada brasileira na capital da Bolívia em 28 de maio de 2012.
Dez dias depois recebeu do Brasil o estatuto de exilado político, mas o Governo da Bolívia nunca forneceu o salvo-conduto para abandonar o país, alegando que Pinto respondia a acusações na Justiça, a maioria por corrupção, e que numa delas já tinha uma condenação a pena de prisão.
Na passada sexta-feira, com a cumplicidade de diplomatas do Brasil e escoltado por militares brasileiros, foi transportado durante 22 horas de carro, num percurso de 1.200 quilómetros, para a cidade fronteiriça de Corumbá, no estado de Mato Grosso do Sul.
Segundo a Efe, Roger Pinto foi recebido no Brasil por agentes da Polícia Federal e viajou para Brasília num avião fretado pelo senador Ricardo Ferraço, presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara Alta, que admitiu ter pedido ao corpo diplomático em La Paz que colaborasse na fuga.
O Ministério das Relações Exteriores brasileiro disse só ter tido conhecimento da fuga no sábado e prometeu investigar, admitindo medidas disciplinares.
Na segunda-feira, chamou o encarregado de negócios da embaixada do Brasil em La Paz, que hoje em Brasília admitiu ter colaborado na operação.
"Tomei esta decisão porque havia um risco iminente para a vida dele [Roger Pinto] e uma ameaça à dignidade humana de uma pessoa", afirmou Eduardo Saboia aos jornalistas.
"Optei pela vida. Optei por proteger uma pessoa, um perseguido político, tal como a Presidente Dilma foi perseguida durante a ditadura brasileira", explicou.
O Governo boliviano exigiu explicações a Brasília pela fuga do senador.