Os incidentes ocorridos desde a última noite têm envolvido cidadãos estrangeiros, sobretudo os da Nigéria, que a população de Bissau ataca dizendo estarem ligados a raptos de crianças no país, informação desmentida pela polícia.
No bairro de Massacobra, subúrbios de Bissau, um nigeriano que aparentava ter 35 anos morreu hoje devido a ferimentos provocados por agressões de moradores.
Um residente que presenciou o incidente contou à agência Lusa que o homem estava a passar por um grupo de jovens que o identificaram como sendo nigeriano e que de imediato o começaram a agredir.
"O rapaz, que não tinha nenhuma criança consigo, fugiu e foi perseguido. Batiam nele com paus, pedras e garrafas até que ele não resistiu e morreu ali mesmo", contou.
A Lusa constatou que junto ao corpo do homem morto, ainda a descoberto, estavam elementos da Policia Judiciária, bombeiros e agentes da Guarda Nacional.
Um elemento da Guarda Nacional disse que aguardavam que agentes de medicina legal tomassem conta do caso e realizassem as diligências necessárias.
Entretanto, no Bairro d'Ajuda, junto a um posto de combustível, um camião foi hoje queimado pela população que afirma que, na viatura, teriam sido encontradas duas crianças dentro de uma caixa, supostamente vítimas de rapto.
Alguns presentes no local garantem, contudo, que a viatura em questão seria de um comerciante e que não transportava crianças mas sim mercadorias em direcção à Canchungo, norte do país.
Já durante a manhã, uma multidão atacou com pedras e garrafas a embaixada da Nigéria, obrigando à evacuação da zona central do Mercado do Bandim pelas forças de segurança, que dispararam tiros para o ar e recorreram a gás lacrimogéneo para dispersar a população.
O ataque surgiu depois de uma perseguição a um alegado raptor, que se teria dirigido àquelas instalações.
Em conferência de imprensa, o comissário-geral da Policia de Ordem Pública, general Armando Nhaga, afirmou que o se passou hoje em Bissau foram actos de "vandalismo premeditado", uma vez que a polícia nunca recebeu nenhuma denúncia concreta de raptos de crianças.
O comissário diz não compreender a situação registada na capital, ao ponto de viaturas de particulares terem sido incendiadas sem que nada o justificasse.
Negou também os relatos que indicam que seriam os nigerianos os autores de alegados raptos de crianças, situação que estaria a provocar a ira popular.
Tanto o homem que foi hoje perseguido até à embaixada da Nigéria como um outro detido na noite de segunda-feira, também por suspeita de rapto, são guineenses, explicou Armando Nhaga.
A polícia e a Guarda Nacional estão a anunciar, nas rádios de Bissau, números de telefone para os quais qualquer cidadão nigeriano que se sentir ameaçado possa ligar a pedir socorro.
A Lusa verificou que há viaturas da ECOMIB (contingente constituído por soldados de países da África Ocidental) a transportar cidadãos da Nigéria para o quartel desta força, situado em Bissalanca, às portas de Bissau.