O Nobel da Paz sul-africano Desmond Tutu considerou hoje que os dirigentes africanos que defendem uma retirada do Tribunal Penal Internacional (TPI) procuram na realidade "uma autorização para matar, mutilar e oprimir" com total impunidade.
"Alguns na UA podem avançar com a carta racial ou com a carta colonial no seu discurso", disse o arcebispo sul-africano num artigo publicado no Cape Times. "Longe de ser o que alguns chamam 'uma caça às bruxas iniciada pelo homem branco', o TPI não poderia ser mais africano, mesmo se o quisesse", escreveu o Nobel da Paz.
Tutu lançou este apelo na altura em que os dirigentes da UA estão reunidos numa cimeira destinada a debater as difíceis relações entre o continente e o TPI, que acusam de apenas ter julgado africanos desde o início dos seus trabalhos, em 2002.
"Esta cimeira é um combate entre a justiça e a violência brutal. Longe de ser um confronto entre a África e o Ocidente, é um confronto entre africanos, pela alma do continente", escreveu o Nobel da Paz.
Tutu acusou os dirigentes que reclamam uma saída do TPI de "quererem na realidade uma autorização para matar, mutilar e oprimir os seus povos sem consequências".
"África sofre as consequências dos actos de dirigentes irresponsáveis há demasiado tempo para se poder deixar enganar desta maneira", sublinhou, apelando à assinatura de uma petição na Internet iniciada pelo grupo activista Avaaz.
"Sem este tribunal não haverá qualquer freio aos piores excessos (...) Os dirigentes violentos continuam a infestar África: os Grandes Lagos, o Mali, o norte da Nigéria e o Egipto são todos fontes de inquietação (...) Os autores de violências não devem ser autorizados a saírem com uma pirueta", escreveu Tutu.
Na reunião de dois dias na capital etíope, os líderes africanos estão a debater o tipo de relações que a organização Pan-Africana (que conta com 34 membros dos 122 países do mundo que ratificaram o Estatuto de Roma, que fundou o TPI) vai manter com o tribunal internacional.
As acusações dos líderes africanos intensificaram-se depois de o TPI ter acusado de crimes contra a humanidade os quenianos Uhuru Kenyatta e William Ruto, eleitos em Março passado Presidente e vice-Presidente do Quénia, respectivamente.