É a pior vaga de violência na antiga república soviética desde que os protestos começaram, há 12 semanas. Presidente acusa oposição de apoiar os elementos radicais.
Os confrontos entre os manifestantes e a polícia continuam na principal praça de Kiev, a capital da Ucrânia, onde morreram 26 pessoas só desde terça-feira e segundo dados oficiais. Dez dos mortos são polícias e 15 são civis.
Há ainda mais de 241 feridos, entre eles 79 policias e cinco jornalistas. Os números foram avançados esta quarta-feira manhã pelo ministro ucraniano da Saúde.
No centro da cidade há ainda focos de incêndio e milhares de pessoas concentradas na Praça da Independência. Os manifestantes ocupam agora um terço da praça e preparam-se para uma nova vaga de ataques contra a polícia.
Há quem esteja a improvisar protecções de plástico para o corpo, de modo a evitar as bastonadas; outros preparam “cocktails molotov”.
Durante a madrugada, enquanto nas ruas os confrontos decorriam, o presidente ucraniano, Viktor Ianoukovitch, dirigia-se ao país para apontar o dedo à oposição, acusando-a de ter chamado a população a pegar em armas, para conseguir chegar ao poder através das ruas.
E avisou: ou a oposição se afasta dos elementos radicais ou a resposta passará a ser diferente.
Vitaly Klitschko, um dos líderes da oposição com quem Yanukovich se reuniu durante a madrugada, deu conta da única proposta apresentada pelo presidente: “Propôs que todos os manifestantes acabassem com os protestos. Foi um encontro breve, que me deixou feliz. O presidente não quer ouvir a oposição. Quer apenas que os protestos acabem. Que haja uma trégua, sem confrontos.”
Nas ruas, teme-se uma eventual acção policial mais musculada para terminar com a ocupação da Praça da Independência, mas o eventual medo não vai afastar os manifestantes. Era, pelo menos, isso o que garantia esta madrugada à televisão CNN um dos milhares de manifestantes que ocupam aquela praça.
“Tenho medo de pensar nisso. Porque estas pessoas não vão afastar-se. Vão ficar aqui, pelo seu futuro, pelas suas vidas”, afirmava.
A Renascença falou com uma professora de Português em Kiev, Alexandra Ozna, segundo a qual, apesar dos confrontos, os habitantes da cidade não estão com medo de sair à rua e tentam manter a rotina diária.
Maiores são as preocupações quanto ao futuro do país, face às divisões na sociedade ucraniana e à presença de movimentos radicais entre os manifestantes.
A última reacção internacional a estes confrontos foi do Secretário de Estado norte-americano, John Kerry, que pediu ao governo ucraniano o fim imediato dos confrontos.
Na origem dos conflitos estão duas visões diferentes para o futuro da Ucrânia: os mais velhos querem ficar mais perto da Rússia, os mais novos querem virar-se para o Ocidente e para a União Europeia.