Ainda não há resultados oficiais, mas líderes de forças políticas adversárias já reconheceram derrota.
A Acção Democrática Independente (ADI) liderada pelo ex-primeiro-ministro Patrice Trovoada, reivindicou a vitória, com maioria absoluta, nas eleições legislativas de domingo em São Tomé e Príncipe. Os resultados oficiais não tinham sido divulgados até ao início da tarde desta segunda-feira, mas líderes de partidos adversários já reconheceram a derrota.
O jornal digital santomense Téla Nón deu a maioria absoluta da ADI como garantida e adiantou que o partido de Trovoada, primeiro-ministro derrubado em 2012 pela oposição parlamentar, só não venceu no distrito de Caué, no sul da ilha de São Tomé, onde o triunfo terá sido do MLSTP/PSD (Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe), antigo partido único.
Trovoada reivindicou a eleição de 31 a 33 deputados num Parlamento de 55. A confirmar-se, será o melhor resultado de sempre da ADI, que em 2010 obteve uma maioria relativa, elegendo 26 parlamentares. Milhares de simpatizantes do partido saíram à rua na manhã desta segunda-feira para festejar o triunfo.
“A ADI ganhou”, reconheceu o presidente do MLSTP, Jorge Amado, em declarações à RDP África. A vitória da ADI é “legítima e esperada”, disse também à estação de rádio Rafael Branco, líder do recém-fundado Partido da Estabilidade e Progresso Social (PEPS), dissidente do MLSTP, de que foi presidente e em nome do qual chefiou o governo.
Desde o início do pluripartidarismo, em 1991, nenhum executivo cumpriu os quatro anos de uma legislatura. São Tomé e Príncipe teve desde então 17 governos e 14 primeiros-ministros.
Em 2012, a confrontação política culminou com o derrube do governo minoritário de Patrice Trovoada pela oposição parlamentar. O partido insistiu no nome do líder para o cargo de primeiro-ministro e reclamou – em alternativa – eleições antecipadas. Mas o Presidente de São Tomé e Príncipe, Manuel Pinto da Costa, disse que se então houvesse eleições, “passados alguns meses o país estaria na mesma”.
Pinto da Costa acusou Trovoada de ter agido na altura com “fins meramente políticos e interesses partidários” e deu posse a um governo liderado por Gabriel Costa, dirigente de um pela força política sem representação parlamentar e apoiado pelos 21 deputados do MLSTP/PSD; pelos sete do Partido de Convergência Democrática (PCD), e pelo único representante do Movimento Democrático das Forças da Mudança - Partido Liberal (MDFM-PL), do ex-Presidente Fradique de Menezes. Ao longo dos últimos dois anos, Trovoada queixou-se de perseguição política
Os desencontros entre Trovada e o actual chefe de Estado têm raízes profundas: vêm dos primeiros anos da independência e culminaram com a prisão, entre 1979 e 1981, do pai de Patrice – Miguel Trovoada, agora representante das Nações Unidas na Guiné-Bissau, e que então chefiava o Governo do regime de partido único liderado pela actual Presidente.
“Se Trovoada ganhar, há um potencial de conflito com esse Presidente, o potencial de conflito seria muito maior do que com outro partido qualquer”, disse ao PÚBLICO, antes das eleições, Gerhard Seibert, investigador da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira, que há anos acompanha a evolução de São Tomé.