Na barbearia, sempre movimentada todos os dias, nenhum cliente. Um funcionário faltou pela terceira vez. Com pouca gente saindo às ruas, numa das padarias mais populares, no meio do mercado de Jerusalém Ocidental, vão sobrar bolos e pães já assados para o dia seguinte.
A tensão em Jerusalém, com os crescentes conflitos entre israelenses e palestinos, mudou a paisagem da cidade. Se as coisas já vinham piorando nas últimas semanas, anteontem o caldo entornou de vez após o ataque contra uma sinagoga que deixou sete mortos (incluindo os dois terroristas) e outros sete gravemente feridos. Quatro rabinos morreram no interior do templo, e um policial não resistiu aos ferimentos, morrendo horas depois no hospital. Os dois atacantes palestinos foram mortos por agentes das forças de segurança israelenses.
Agora, helicópteros sobrevoam o Parlamento, e sirenes da polícia e de ambulâncias chamam a atenção das poucas pessoas nas ruas. Parte da população evita lugares com aglomerações ou até sair de casa. Uma nova central de segurança interna, inaugurada ontem, vai colocar balões com câmeras para sobrevoar a cidade dividida.
Se após os atropelamentos propositais em Jerusalém, todos os carros em alta velocidade agora assustam as pessoas, depois das facadas em Tel Aviv e Gush Etzion, cada um anda na rua vendo desconhecidos como suspeitos em potencial.
Em Tel Aviv, três homens foram presos ontem após discussão que começou porque gritavam "Allahu akbar" ("Deus é grande", em árabe).
Mesmo com a situação no limite, a Prefeitura de Jerusalém anunciou a aprovação da construção de 78 novas moradias em dois bairros da região oriental, a parte árabe da cidade ocupada por Israel em 1967. A decisão veio no mesmo dia em que o Exército israelense derrubou a casa do motorista palestino que avançou com o carro contra uma parada de bonde em outro atentado em outubro, matando um bebê de 3 meses e uma mulher equatoriana.
O premier israelense, Benjamin Netanyahu, afirmou que o ataque à sinagoga foi resultado da incitação feita pelo grupo fundamentalista islâmico Hamas e pelo presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas.