Este foi um Natal muito diferente para os moradores de Chã das Caldeiras, na ilha cabo-verdeana do Fogo, devastada pela erupção vulcânica que, no último mês, “cuspiu” entre 35 milhões e 40 milhões de metros cúbicos de lava. A Renascença falou com duas pessoas daquela aldeia, que ficaram sem as suas casas. Neste momento, vivem num alojamento improvisado numa outra aldeia vizinha, Mosteiros.
Laurinda Correia foi viver no último ano para Chã das Caldeiras. Saiu de uma casa arrendada para outra que tinha acabado de construir. Esteve lá pouco tempo. A erupção destruiu-lhe a nova habitação por completo. Neste momento, vive num abrigo provisório na aldeia dos Mosteiros. A tristeza mistura-se, ainda assim, com a alguns sorrisos que resultam da alegria dos mais novos.
“Estou muito feliz porque está cá o primeiro-ministro. Houve festa e deram às nossas crianças prendas", começa por relatar à Renascença. Mas logo o discurso se torna mais sombrio. "Também estou triste porque perdi a minha casa. Já estava a pensar no Natal, já estava a pensar em fazer a festa com a minha família", desabafa.
"Construí a minha casa, mas só lá estive dois meses. Depois, veio a erupção e tive que a deixar. Não vivi com a minha família dentro da casa que construí”, lamenta esta mulher que foi uma das 1.500 pessoas que teve de abandonar o local em que morava devido à erupção vulcânica.
Ainda assim, Laurinda vai passar esta quadra com outros familiares. O mesmo acontecerá com Valdemar Alves, professor na aldeia mais foi afectada pela erupção da ilha do Fogo. Valdemar ficou com sem casa, mas também sem a escola onde dava aulas. Com tantas perdas, o Natal não vai ser aquele que idealizou.
“Sou um educador e, portanto, terei de fazer o que for preciso para que os outros se sintam bem. Mas, certamente que não será igual ao tempo que passámos em Chã das Caldeiras, principalmente as pessoas mais adultas, que estão a sofrer bastante. Não vai ser um período fácil, mas vamos tentar”, afirma, relutante, o professor.