O antigo ditador do Chade, Hissène Habré, começa a ser julgado, esta segunda-feira, no Senegall. O julgamento é aberto ao público mas, segundo um dos advogados do réu, não contará com a sua presença. Para as vítimas é importante virar esta página, como explica Ginette Ngarbaye, uma sobrevivente e atual secretária da Associação das Vítimas dos Crimes do Regime de Hissène Habré:
“É uma luta, uma grande luta… O que quero é que isto acabe porque não quero que os meus filhos passem pelo mesmo, nem um familiar meu, nem nenhum ser humano. Aguardo o processo e que seja feita justiça.”
Uma situação inédita: um ditador africano julgado por um tribunal de outro país africano, a pedido das suas vítimas, apoiadas por associações internacionais de direitos humanos:
“É a primeira vez que o tribunal de um país, o Senegal, vai julgar o antigo líder de outro país, o Chade, por alegados crimes contra os direitos humanos. E, neste caso, 25 anos depois. Isto é o resultado de uma campanha das vítimas de Hissène Habré, foram elas que arquitetaram isto e são elas as protagonistas”, adianta o porta-voz da Human Rights Watch, Reed Brody.
Hissène Habré é acusado de responsabilidade em 40 mil assassinatos políticos e mais de 200 mil casos de tortura enquanto esteve no poder, de 1982 e 1990. Uma centena de vítimas testemunha no julgamento – num tribunal, excecional, criado por acordo entre a União Africana e as Nações Unidas – e que pode durar três meses.