Era uma imagem que os cubanos não imaginariam ser possível há pouco mais de um ano: o seu Presidente, Raúl Castro, à porta do Palácio da Revolução, a sede do Governo do país, à espera de apertar a mão ao Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, enquanto uma guarda de honra do Exército tocava o hino norte-americano. “É um novo dia”, sublinhou Obama, falando em espanhol.
“Está a gostar de Havana?”, quis saber Raúl Castro, à entrada do líder norte-americano no edifício mais representativo do sistema comunista da ilha. “Gostei muito do pequeno passeio que fizemos à noite. E o jantar foi excelente!”, respondeu Obama, informando o seu anfitrião sobre a primeira parte informal da sua visita a Cuba. Foram as únicas palavras de circunstância que as câmaras conseguiram captar, antes de os dois se retirarem para a sua reunião oficial.
Depois de dois anteriores (e breves) contactos bilaterais, no âmbito da cimeira inter-americana do Panamá, de Abril de 2015, e da Assembleia-Geral da ONU, em Setembro passado, a reunião entre Raúl Castro e Barack Obama no Palácio Presidencial de Havana foi uma discussão prolongada, substantiva e “muito proveitosa”, segundo a descrição do líder cubano. Na agenda estavam temas económicos e políticos e as matérias mais delicadas de direitos humanos e democracia; na conferência de imprensa no fim do encontro Castro concentrou-se nos primeiros – os entendimentos e instrumentos bilaterais que foram assinados para a cooperação em áreas como a agricultura, o ambiente, a segurança e o combate ao narcotráfico ou a saúde – e Obama referiu-se aos segundos.
“Temos valores comuns mas também diferenças profundas. Cuba é soberana e o seu futuro depende e será decidido pelos cubanos. Nós não queremos ditar. Mas não deixaremos de falar de direitos humanos, de liberdade de expressão e de reunião, liberdade religiosa, porque são valores em que acreditamos”, afirmou o Presidente dos EUA, sublinhando que apesar do compromisso de ambos os Governos com a normalização e estabilização das suas relações, o seu relacionamento “não se transformará da noite para o dia”.
Raúl Castro reconheceu que “algumas das diferenças não vão desaparecer porque nos dois países as ideias são muito diferentes” no que diz respeito a sistemas políticos, democracia, o exercício dos direitos humanos, a justiça social, as relações internacionais, a estabilidade e a paz no mundo, enumerou. “Podemos aprender a arte de coexistir com as nossas diferenças de forma civilizada”, acrescentou.
A cordialidade com que decorreu a conferência de imprensa só foi interrompida quando um jornalista da CNN perguntou a Raúl Castro porque é que Cuba tinha presos políticos e quando iria libertá-los. “Diz-me quem são, dá-me uma lista. Se eles existem, esta noite mesmo serão todos soltos”, ripostou, exaltado.
Mas o que sobressaiu foi o tom optimista e auspicioso com que os dois Presidentes se referiram ao futuro. “Coincidimos que há um caminho longo a percorrer mas o importante é que começámos a dar passos para um novo relacionamento. Destruir uma ponte é fácil e rápido; reconstruir é uma tarefa mais complexa”, lembrou Raúl Castro. “Este é um novo tempo de esperança no futuro, e como dizem os cubanos, hechar para adelante!”, concordou Obama.