Dilma Rousseff, alertou, no Senado, onde é alvo de um processo de 'impeachment' (destituição), que pode ser vítima de um "golpe parlamentar" e culpou um "boicote político" pela crise económica.
Num derradeiro esforço para inverter a aprovação da sua destituição, Dilma Rousseff decidiu fazer pessoalmente a sua defesa na câmara alta do Congresso, num processo em que é acusada de editar créditos suplementares em 2015 e de usar dinheiro de bancos federais em programas do Tesouro, as chamadas "pedaladas fiscais".
A sessão, que durou cerca de 14 horas, começou com uma declaração, na qual Dilma Rousseff disse que não cometeu crimes e pediu justiça aos senadores, alertando que está a ser vítima de um golpe.
Ao responder a 48 senadores, que ora elogiaram ora criticaram o conjunto da obra da Presidente reeleita em 2014, e à acusação e à defesa, Dilma Rousseff distanciou-se, vezes sem conta, dos crimes de que é acusada, negando ter violado a Constituição, e reforçou: "Tenho a certeza absoluta de que não se trata de crime de responsabilidade".
Recusando que o pedido para a sua saída da Presidência tenha nascido nas ruas, a líder brasileira sublinhou que foi alvo de "um dos maiores boicotes" contra a governação, por parte da Câmara dos Deputados, quando ela era liderada pelo seu opositor Eduardo Cunha, político que responsabiliza pelo processo de 'impeachment'.
"Eu não menti no processo eleitoral", disse, realçando fatores para justificar a crise do país, como o preço das 'commodities', a desvalorização do real, a elevação dos juros nos Estados Unidos, as secas no Brasil e a desaceleração da China.
Nas suas respostas, Dilma Rousseff reforçou a ideia de se fazer um referendo sobre a convocação de eleições e uma reforma política, dada a proliferação de partidos (35) que prejudica a governação.
Nas suas considerações finais, a chefe de Estado suspensa pediu aos senadores que votem com "consciência", alertando que tirar um Presidente sem ele ter cometido crimes de responsabilidade é um "ferimento que será muito difícil de ser curado".
Após o depoimento, o julgamento do primeiro 'impeachment' de um Presidente do Brasil em que não houve renúncia ao cargo prosseguirá com os debates entre a acusação e a defesa, os pronunciamentos dos senadores e a votação.
Se for considerada culpada por 54 dos 81 senadores, a Presidente suspensa perderá o mandato e o direito de ocupar cargos públicos electivos por oito anos.